Por
Alexandre Giesbrecht
Para se vencer jogos 7, são necessários heróis.
E os Sharks, mais do que muitos times, sabem bem disso, afinal tiveram
Jamie Baker em Datroit, em 1994, Ray Whitney em Calgary, em 1995 e,
mais recentemente, Owen Nolan em St. Louis, em 2000. Desta vez, eles
não conseguiram um.
Já o Avalanche, ah, o Avalanche não só sabia disso
-- não é à toa que eles ganharam suas três
últimas séries em jogos 7 -- como conseguiu um gigante,
no jogo 6 e no 7: Peter Forsberg, que marcou três dos quatro gols
da vitória do Colorado na série. E, não por acaso,
agora quem vai decidir a Conferência Oeste com o Detroit é
o Colorado. Os Sharks? Eles vão sair de férias, porque
não conseguiram achar um herói.
Teemu Selanne perdeu a sua chance de virar herói ao perder uma
chance com o gol vazio com menos de cinco minutos de jogo. Nolan esteve
machucado durante a maior parte do jogo, sem poder sequer pensar em
fazer alguma jogada heróica. Ou seja, os melhores jogadores dos
Sharks não produziram quando importava e isso foi a diferença
na série. Como bem resumiu o técnico Darryl Sutter, "jogamos
muito bem, mas quem marcou o único gol deles"?
A resposta é Forsberg, a quem Vincent Damphousse qualificou como
o melhor jogador do mundo depois do jogo. E ninguém em Denver
vai discutir isso, pelo menos não até o fim das finais
de conferência.
De qualquer jeito, tudo estava contra os Sharks desde o início:
eles jogariam o jogo 7 na casa dos atuais campeões da Stanley
Cup, encarando um time que ganhou seus últimos três jogos
7 em casa e que, ainda por cima, tinham uma lenda no gol. Os Sharks
não ganhariam esse jogo a não ser que algum de seus jogadores
de elite chamasse para si a responsabilidade, do mesmo jeito que Forsberg
fez para os Avs.
E Selanne teve sua chance logo no começo: com Roy atrapalhado
no lado oposto do gol, Selanne passou por trás da rede e, com
todo o tempo do mundo e nenhum zagueiro num raio de alguns quilômetros,
chutou o disco cruzado, direto nas mãos desesperadamente abertas
de Roy.
Outro bom lugar para se procurar um herói era dentro da camisa
de número 11: Nolan, o motorzinho e o líder do San Jose,
alguém com experiência em heroismo de sétimo jogo.
Há dois anos, em St. Louis, ele assegurou a vitória dos
Sharks com uma bomba da linha vermelha no fim do primeiro período,
selando o destino do St. Louis Blues ao mergulhar no gelo para bloquear
um chute de Al MacInnis. Mas a dois minutos do fim do primeiro período
Nolan foi inutilizado pelo resto da partida. Quem mais poderia ser,
senão Forsberg, com um choque de quadril em Nolan na zona neutra.
Para Nolan, os árbitros deveriam ter marcado uma penalidade,
mas o melhor jogador do mundo não recebe esse tipo de penalidade.
Mas o que sobrou para os Sharks foi mesmo a frase mais ouvida quando
um time é eliminado: "e se...?"
E se Selanne tivesse percebido que tinha mais tempo para preparar o
chute? E se Mike Ricci ou Brad Stuart tivessem marcado Forsberg -- ao
invés de ambos partirem para cima de Alex Tanguay -- nos 3-contra-3
que originou o único gol do jogo? E se Vincent Damphousse tivesse
conseguido vencer Joe Sakic em um dos face-offs-chave no ataque no último
minuto de jogo?
E não pára por aí. E se Roy não fosse tão
bom em jogos importantes? Sabem quantos gols ele sofreu nos últimos
seis jogos dos Avs em que eles corriam o risco de ser eliminados? Três.
Três gols em seis jogos decisivos. Eu poderia continuar, mas seu
currículo digno de Salão da Fama ocuparia minha coluna
inteira e mais um pouco.
E se Forsberg tivesse sido um pouco mais exigente em sua reabilitação?
E se Adam Foote tivesse sido um pouco menos agressivo. Ele registrou
oito trancos e seis chutes bloqueados nos seus 27:23 de gelo no jogo
7. E se Steven Reinprecht não tivesse empatado o último
jogo da temporada regular, contra os Stars, com apenas 2:59 para o fim?
Bem, se ele não tivesse marcado os Sharks teriam ficado com a
segunda colocação no Oeste e teriam o mando de gelo no
jogo 7.
Vai demorar um pouquinho (talvez um verão), mas os Sharks vão
superar os "ses" e vão se preparar para a próxima
temporada. Até lá eu só consigo imaginá-los
melhores do que hoje. E isso é aterrorizante para as outras equipes.
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Alexandre Giesbrecht, publicitário, estava até torcendo
pelos Sharks, mas sabia que era o Colorado que tem alguma chance
de parar os Red Wings. |
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ROY DEFENDE... Patrick Roy
foi imbatível no jogo 7 (Gary caskey/Reuters - 15/05/2002) |
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...E OS AVS COMEMORAM O técnico
Bob Hartley, dos Avs, comemora a classificação da
equipe (Hector Acevedo/AP - 15/05/2002) |
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