Por
Alexandre Giesbrecht
A competitividade dos playoffs da NHL começou antes mesmo dos
jogos, quando o central Alexei Yashin, dos Islanders, foi poupado das
últimas quatro partidas do time na temporada regular e de vários
treinos, por causa de algo que o time chamou de "contusão
na virilha" -- uma pegadinha que no mundo do hóquei pode
ser traduzida como "dedo do pé quebrado" ou "pescoço
distendido". "Se um time fala que a contusão é
no pé do cara, provavelmente é no seu ombro", conta
o atacante Kris Draper, dos Red Wings, sobre a amplamente aceita prática
da NHL de disfarçar contusões.
Talvez Yashin, que foi mal nos dois primeiros jogos da pós-temporada
contra os Maple Leafs, não estivesse na verdade sentindo dores
na virilha ("Não estou autorizado a dizer", resumiu).
Talvez o central Robert Reichel, dos Leafs, tenha mesmo perdido um dos
jogos por "contusão na perna". Talvez o central Joe
Nieuwendyk, dos Devils, tivesse mesmo um "vírus no estômago"
quando ficou de fora da primeira partida contra os Hurricanes. Não
há como saber. A lista oficial de contusões da liga tem
mais enganações que uma negociata no Senado. Até
há pouco tempo, Milan Hejduk, do Avalanche, estava de fora "indefinidamente"
devido a um "entorse abdominal". O técnico do time,
Bob Hartley, só falava que "assim que soubermos de alguma
coisa, vocês serão os primeiros a saber", que sempre
dispersava outras perguntas a respeito.
O motivo da falsidade é claro: os times não querem que
os adversários saibam onde seus jogadores estão mais vulneráveis.
"Eu não vou necessariamente tentar machucar um cara se souber
onde ele está contundido", revela Doug Gilmour, atacante
peçonhento dos Canadiens. Ao dizer isso, ele pausou e tentou
segurar o riso. "Mas pode ter certeza que eu vou dar uma pancadinha
extra onde dói".
Quando os Stars estavam jogando contra o Avalanche nos playoffs de 1999,
o serviço de inteligência do Dallas descobriu que Peter
Forsberg, do Colorado, estava com o ombro esquerdo ruim. "Sabíamos
do estado, então demos uns choques a mais", recorda-se Mike
Keane, então atacante do Dallas. Forsberg foi operado depois
da série.
A política da NHL requer que os times divulguem a "natureza
aproximada" das contusões, mas também tem uma brecha
por onde se pode passar com um Zamboni: se um time recear que, ao revelar
uma contusão, pode colocar em risco um jogador, pode "dar
uma visão mais generalizada das condições do jogador".
"Os times podem, basicamente, dizer o que quiserem", diz o
porta-voz da NHL, Frank Brown. "Eles só têm de dizer
alguma coisa".
Como são diferentes as coisas no futebol americano, o outro esporte
em que uma parte do corpo contundida pode ser legalmente atacada. A
NFL faz os times submeter dois relatórios detalhados de contusões
por semana e pune clubes que descumprirem a ordem com multas de até
US$ 25 mil, fazendo tudo isso em nome do que o porta-voz Greg Aiello
chama de "manter a integridade do jogo". Por integridade entenda-se
ter certeza de que todos os envolvidos sabem o que está acontecendo.
De acordo com Aiello, revelar as contusões "elimina a oportunidade
de alguém se beneficiar de informação exclusiva,
o que poderia estar relacionado com atividades de apostas".
A NHL, que atrai muito poucas apostas, não adere a essa honestidade.
Às vezes, contudo, as pessoas são pegas na mentira. Nos
playoffs passados, o técnico Scotty Bowman, dos Red Wings, declarou
que Steve Yzerman estava cuidando de uma perna dolorida. Acontece que
Yzerman contou aos repórteres que tinha um "dedo quebrado".
Depois dos playoffs, Yzerman revelou que também estava com a
tíbia esquerda fraturada.
Quaisquer que sejam os fatos sobre as contusões neste ano, a
verdade não aparecerá até depois dos playoffs --
se aparecer. Enquanto isso, só podemos torcer por escorregadas
como esta, de 1990, quando o central Brent Sutter, dos Islanders, perdeu
um treino durante a série contra os Rangers. Sutter foi derrubado
ao gelo várias vezes no jogo anterior, mas quando os jornalistas
perguntaram o que o incomodava ele ficou em silêncio e pediu licença
para reunir-se com o médico do time. Instantes depois, ele voltou.
"Estou resfriado", anunciou.
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Alexandre Giesbrecht, 26 anos, já leu muito sobre este
assunto, então resolveu que era sua hora de escrever sobre
isso. |
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FOI NA VIRILHA MESMO? Alexei
Yashin (à direita) esteve contundido, mas ninguém
sabe se foi na virilha mesmo (Mike Segar/Reuters - 28/04/2002) |
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