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11 de junho de 2004
Unidos por um único ideal

Por Alexandre Giesbrecht

Há seis meses, poucos os apontavam como possíveis classificados para os playoffs. Três meses depois, alguns citavam-nos como possíveis surpresas na pós-temporada. Um mês depois, os Canucks eram favoritos contra eles. Duas semanas depois, os Red Wings eram francos favoritos contra eles. Duas semanas depois, os Sharks tinham tudo para eliminá-los. Mais duas semanas se passaram, e o favorito agora era o Lightning.

E aqui estamos, Copa Stanley já empunhada, vendo que a caminhada do Calgary Flames foi impressionante, ainda que não tenha sido o seu capitão a levantar o cobiçado troféu.

Sim, os Flames ficaram com o vice-campeonato, compreensivelmente chateados por não ter conseguido o gol que faltou para ficarem com o título na prorrogação do jogo 6, por não ter conseguido o empate que levaria o jogo 7 para o tempo extra. Mas eles saem de cabeça erguida, tendo chegado aonde ninguém imaginava que eles chegariam.

Os playoffs de 2004 terminaram em lágrimas para eles, mas também terminaram com uma esperança que os times que cruzaram seu caminho hoje não têm. Os Canucks ainda não sabem se contarão com Todd Bertuzzi na próxima temporada e, se ele voltar ao elenco, não se sabe se ele será o mesmo. Isso sem falar na interminável polêmica no gol. Os Wings foram eliminados e já no dia seguinte discutia-se o futuro dos veteranos jogadores que compõem metade do plantel. Mesmo os Sharks hoje se questionam se fizeram a coisa certa ao demitir Darryl Sutter do cargo de técnico e trocar Miikka Kiprusoff — não por coincidência, ambos foram parar em Calgary.

O time que ficou a uma vitória da Copa Stanley ainda é jovem, e suas estrelas ainda estão em ascensão. Melhor ainda: agora têm na bagagem a experiência de uma pós-temporada longa, com dois difíceis jogos 7 no meio. Tudo isso sem três importantes titulares (Denis Gauthier, Dean McAmmond e Matthew Lombardi), que fizeram falta no final, quando faltou fôlego à equipe para manter as boas atuações. Se o título não veio agora, ele parece provável no futuro.

Além de tudo isso, mais um feito pode ser creditado à brava equipe dos Flames: unir não apenas uma cidade, mas um país inteiro. Os 900 mil habitantes de Calgary demonstraram seu apoio das mais diversas maneiras, com os jornais locais reservando um bom espaço para as loucuras da torcida pelas ruas. O Saddledome, estádio do time, esteve lotado em todas as partidas, sempre com o seu "mar vermelho", uma multidão de pessoas vestindo as cores do time.

E não parou por aí. O time de Calgary virou o time do Canadá. De uma costa a outra, só se falava nos Flames. Mesmo em Edmonton, do outro lado da província de Alberta, cidade que alimenta uma grande rivalidade com Calgary, especialmente no hóquei, as diferenças foram esquecidas durante os playoffs. Diz-se que uma igreja na cidade colocou um aviso no painel que dizia: "Jesus dizia que devemos reservar uma prece para os nossos inimigos. Vamos lá, Flames."

Essa é uma lição que deveríamos aprender. Aqui no Brasil, unimo-nos em torno da Seleção em época de Copa do Mundo, mas nunca, desde, talvez, os tempos do Santos de Pelé, vimos uma união como a que se viu no Canadá nos últimos dois meses. Palmeirenses torcendo pelo São Paulo? Flamenguistas pelo Fluminense? Cruzeirenses pelo Atlético? É difícil até imaginar.

Toda essa união não foi suficiente para levar o título para o norte da fronteira pela primeira vez em 11 anos? Tudo bem, o Lightning foi o melhor time e mereceu vencer. O Canadá ficou triste, mas celebrou seus heróis. Não ficou lamentando o título que escapou por entre os dedos. Daqui a 30 anos, ninguém vai ficar se perguntando se o disco chutado por Martin Gelinas a sete minutos do fim do jogo 6 entrou ou não.

É assim que tem de ser. Quem sabe nós não aprendemos com isso?

•É uma grande idéia abrir o estádio com telões para a torcida quando o time joga fora de casa. Eu gostaria de ter visto esta cena: antes do jogo 5, o hino canadense não foi tocado até o fim no St. Pete Times Forum, em Tampa. A milhares de quilômetros dali, a torcida dos Flames que acompanhava o jogo pelos telões instalados no Saddledome continuou a cantá-lo, a plenos pulmões.

• Com a vitória no jogo 6, o Tampa Bay estabeleceu um novo recorde de vitórias e derrotas alternadas: 13, desde o início da série contra os Flyers. O recorde anterior era dos Devils de 1988. Tivesse perdido, a seqüência saltaria para 14 e tornar-se-ia impossível de ser superada — poderia ser, no máximo, igualada.

• O Tampa Bay também tornou-se o primeiro time desde o Toronto de 1963-64 a conquistar o título depois de eliminar o Montreal. Neste período, 19 times tentaram, sem sucesso, o feito.

• Eu pude acompanhar, via Internet, a cobertura dos playoffs pelo jornal Calgary Herald. Tudo bem que o time da cidade estava indo bem, mas, ainda assim, a extensão da cobertura era impressionante. Algo parecido, por aqui, só vemos por aqui durante Copas do Mundo, como bem lembrou Marcelo Constantino. Tudo isso nos fez pensar em algumas idéias para a próxima temporada, que sempre acabam esbarrando no tempo disponível para aplicá-las. Uma delas seria a publicação de edições especiais depois de cada partida das finais.

Alexandre Giesbrecht, 28 anos, gravou o jogo decisivo, algo que não fazia havia seis anos.

 

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Página publicada em 9 de junho de 2004.