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4 de junho de 2004
Razões para cada time merecer a Copa Stanley

Por Marcelo Constantino

Vamos listar aqui cinco razões que tornam cada time merecedor da conquista da Copa Stanley deste ano. De bônus, e de bom humor, segue também uma razão pela qual os times não merecem vencer a Copa.

Por que o time merece ser campeão da Copa Stanley:

Calgary Flames

Contusões — Muitos times gostam de jogar a culpa pelo fracasso na contusão de jogadores importantes. Olhe para a lista de contundidos dos Flames: lá estão dois defensores titulares, Dean McAmmond, Steve Reinprecht (jogador valioso para o time, que já demonstrou seu valor em playoffs quando jogava nos Avs, e que possivelmente seria o principal central do time a esta altura), entre outros. Você quase não lê nem ouve ninguém reclamando ou lamentando que eles estão fora, ou mesmo dizendo que o time chegou até aqui apesar da ausência deles. É olhar para frente, enaltecer o que se tem e vamos para a guerra.

Raça — Nenhum time nesses playoffs jogou com mais raça do que os Flames. A aplicação, a vontade, o senso incansável de não-desistência e o jogo de equipe foram a marca maior do Calgary nesta pós-temporada. Há quanto tempo não se via um time nas finais que distribui tantos trancos nos adversários!

Tradição e Canadá — A Copa voltando para o Canadá, país onde o hóquei é realmente tradicional e realmente levado a sério por toda a população, justo na temporada que deverá ser a última de uma era, seria simbólico, significativo.

Demolição de tabus — "Para vencer a Copa Stanley você precisa de alguns atacantes com boa experiência em playoffs, mas sobretudo uma defesa e um goleiro experientes". Você já deve ter lido isso, ou algo semelhante, certo? De experiente esse time tem muito pouco. Seu líder, Jarome Iginla, tem experiência zero em playoffs (ou melhor, jogou duas partidas em 1996). Seu goleiro, idem (ou melhor, oito minutos de jogo em 2002). Essa coisa de que todo time precisa de uma defesa com jogadores experientes cai por terra quando observamos os jovens — e pouco badalados — Ference, Regehr, Commodore & cia. comandando a ótima defesa do time.

Azarão finalmente vence uma final — É o final feliz numa história que já é bela de ponta a ponta, independentemente do fim. Na última década, toda vez que um time azarão chegou às finais, perdeu. No ano passado os Ducks chegaram bem perto, mas Panthers, Capitals e Hurricanes ficaram longe. Devils em 95 não contam: como um time é azarão se perde apenas quatro partidas nos playoffs? E tem mais: os Flames, mesmo azarões, não precisaram recorrer à tática da armadilha da zona neutra para chegar até aqui.

Tampa Bay Lightning

Popularização do esporte — A campanha "A Copa precisa de um bronzeado!" indica o caminho. Seria um ótimo passo para a expansão do esporte nos EUA. Só o fato de estar nas finais já ajuda, mas vencer seria algo mais, puxando cada vez mais o esporte para o sul do continente. O Tampa Bay é uma franquia nova, advinda de uma das expansões da NHL nos anos 90. Seria como um sinal às outras franquias, inclusive as mais recentes, de que todos podem vencer a Copa Stanley no médio prazo se fizerem um bom trabalho.

Dave Andreychuk — Não chega a ser uma campanha "uma Copa para Dave Andreychuk", claro, mas seria um coroamento de uma longa e sólida carreira na NHL. Dave é como o tiozão da galera, 40 anos de idade, capitão, mais de 1700 partidas realizadas em 22 anos de liga, e agora com uma chance única de ser campeão.

Fazer valer a temporada — Mostrar que adianta sim ser o primeiro colocado de uma conferência no fim das contas, que a temporada tem valor e que o mando de gelo em todas as séries faz diferença.

Times especiais — Sempre se diz que times especiais vencem jogos e campeonatos. Eu não concordo necessariamente com isso, acredito mais que um time que queira ser campeão precisa saber matar penalidades. Já vi times deficientes quando têm um homem de vantagem vencendo a Copa, mas não me lembro de um campeão que não sabia matar penalidades. O Tampa Bay sabe fazer muito bem tanto uma coisa como outra, tem ótimos times especiais.

A vingança de Martin St. Louis — Dispensado simplesmente pelos Flames em 2000, St. Louis deu uma surpreendente e espetacular volta por cima em sua carreira. Já levará o Troféu Art Ross para casa, deverá levar também o Hart e, quem sabe, o Conn Smythe. Se conseguir, ainda mais com um anel de Copa Stanley nas mãos, imaginem só o sorriso dele — jogador que nunca chegou a ser sequer recrutado — quando for apertar as mãos dos jogadores do Calgary no fim?


Bônus: Por que o time não merece ser campeão da Copa Stanley:

Calgary Flames

(Mau?) Precedente — O Calgary não é um time habilidoso, seus defensores não atuam bem ofensivamente e você raramente vê jogadores batendo de primeira no disco. Isso pode levar a uma situação relativamente constrangedora, se os gerentes concluírem que não é necessário ter um time habilidoso para vencer a Copa Stanley. E tem mais: Toda a defesa dos Flames custa praticamente o mesmo que se paga a Derian Hatcher?! Isso não vai acabar bem, não pode acabar bem! Olha o precedente!

Tampa Bay Lightning

A mala Tortorella — O cara fica naquela pose de metido lá atrás no banco, de mãozinha no bolso, e volta e meia aparece esbravejando e reclamando raivosamente, todo irritadinho, de qualquer coisa dos juízes. Chega a parecer o Mauricinho Crawford do Leste, mas sem a mesma preocupação com o corte e penteado. A vitória do Tampa nos retiraria esse prazer que é vê-lo reclamando dos juízes.

...

Sobre as finais até aqui — Falem o que quiserem, uma coisa é certa: esta tem sido a melhor final de Copa Stanley desde 1994. Nada de jogar para trás, nada de armadilha, nada de eliminar o forechecking. É jogo pra frente, de ambos os lados, e só isso já faz a diferença. Jogos 1 e 2 foram bem semelhantes, cada um para um lado. Jogos 3 e 4 já foram mais fechados, com muitos trancos (o que é sensacional!), em sua maioria expressiva por parte do Calgary. Tem sido torturante acordar de madrugada para assistir aos jogos "ao vivo", mas tem valido a pena.... Martin Gelinas, além de herói de todas as classificações dos Flames, é o único jogador desta série que esteve presente na última vez em que um time canadense disputou a Copa Stanley: ele jogava no Vancouver Canucks de 1994.... Há uma boa leva de ex-Avs jogando nessas finais. Daqui eu consigo listar Robyn Regehr (que nem chegou a esquentar na franquia), Stephane Yelle, Shean Donovan, Ville Nieminen e os contundidos Steve Reinprecht e Dean McAmmond pelos Flames, e ainda Chris Dingman, Nolan Pratt e Dave Andreychuk pelo Lightning.... Interessante como o Tampa Bay segue numa seqüência perfeita de ganha-perde desde a série contra os Flyers. Não vencem duas seguidas desde a série contra os Habs. E ainda não perderam duas seguidas nesses playoffs. Entrentanto, se continuar com essa seqüência, perdem a Copa.

Marcelo Constantino não acredita, mas enxerga, lá no horizonte, Robyn Regehr trazendo a Copa Stanley para o Brasil. Para Recife, que seja.
MOTIVOS PESSOAIS Dave Andreychuk e Martin St. Louis têm motivos pessoais para trazer a Copa para Tampa Bay (Chris O'Meara/AP - 24/05/2004)
 
TRANCOS A quantidade de trancos que os Flames desferem já é algo raro de se ver na NHL de hoje em dia. Em finais de Copa Stanley então, é uma dádiva para os torcedores (Shaun Best/Reuters - 31/05/2004)

 

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Página publicada em 2 de junho de 2004.