Por
Alexandre Giesbrecht
Mesmo ainda na briga por uma vaga para os playoffs, a temporada dos
Sabres andava monótona. Sem empolgar a torcida, os jogadores
ora viam um público abaixo de 10 mil pessoas assistindo ao jogo,
ora viam casa cheia. Os jornais da semana passada falavam sobre as mudanças
propostas para a NHL na temporada e reclamavam que os defensores Brian
Campbell e Henrik Tallinder ainda não tinham marcado gols desde
que o disco começou a cair.
Não mais que de repente, o assunto mudou. Na sexta-feira, os
Sabres viraram um jogo que perdiam por 3-1, fazendo 8-3 no Los Angeles.
No dia seguinte, viraram um jogo que perdiam por 3-0 para o Toronto,
marcando 6-4, com um gol de goleiro. Dois dias depois, enfiaram 7-2
no Atlanta, com quatro gols de Miroslav Satan.
Foram 21 gols em três jogos, algo que não se via na liga
desde os Penguins de 1995-96. Os Sabres, então, não marcavam
tal quantidade em três jogos desde 1992-93, quando Pat LaFontaine
e Alexander Mogilny somaram, juntos, 275 pontos (ver quadro ao lado).
Fala-se do gol que o goleiro Mika Noronen marcou no sábado. Dos
quatro gols que Satan marcou na segunda-feira. Até Tallinder
marcou um na avalanche ofensiva do time de Buffalo.
Tudo isso sem troca de técnico ou de jogadores. Sem o retorno
sensacional de algum jogador contundido. E o mesmo time que estabeleceu
um novo recorde da franquia ao perder sete jogos seguidos em dezembro
tornou-se uma aberração dentro da NHL: um time que marca
gols às dezenas.
"Você sabe que os gols são uma montanha russa na liga,
e você pode ficar um bom tempo sem marcar um ou dois. Para nós,
marcar oito numa noite, depois seis na noite seguinte é algo
excepcional", comemorou o técnico Lindy Ruff, ainda antes
dos 7-2 de segunda-feira.
Uma série sensacional, sem dúvida, que pode servir para
levar a torcida ao estádio e para empolgar os próprios
jogadores, cuja confiança deve estar lá em cima nos últimos
dias. Mas é difícil apontar esses últimos jogos
como uma tendência da NHL ou mesmo dos Sabres. Não há
nada que explique racionalmente a súbita mudança no comportamento
do time. É como o que aconteceu no início do ano com os
Coyotes de Brian Boucher, que marcaram cinco shutouts seguidos, para
depois seguir com medíocres 3-10-3-1.
A única coisa que chega perto da explicação, em
ambos os casos, é a confiança. No caso de Boucher, os
discos vão sendo parados, e vai sendo cada vez mais fácil
rejeitá-los. No caso dos Sabres, é mais difícil,
porque não se resume a uma só pessoa. Para complicar ainda
mais, as duas primeiras goleadas foram construídas apenas na
segunda metade do jogo, depois de o adversário abrir vantagens
aparentemente insuperáveis. Quando se leva em consideração
a seqüência de sete derrotas em dezembro, em que o time marcou
apenas 11 gols (num incrível "degradê" de 2-1-2-1-2-1-2),
então, o feito da última semana fica ainda mais incrível.
A confiança ajuda a explicar, mas não elucida totalmente
o enigma. Por mais que os jogadores acreditem em si, isso não
deveria provocar uma mudança tão radical, mas os jogadores
são rápidos em apontar esse como o motivo.
"Neste instante, acreditamos que conseguimos vencer qualquer um",
afirma Daniel Briere, o melhor jogador do time nas últimas semanas.
"Estamos unidos. Nós nos colocamos em má situação
para os playoffs, mas estamos trabalhando para nos recuperar. Todo mundo
está focado nisso", explica J.P. Dumont. "O ambiente
no vestiário mudou. Todos estão jogando seu melhor hóquei.
Quando você tem todo o time jogando bem, você consegue acumular
pontos", elabora Satan.
Apesar dessa boa fase, se o time mantiver a média alcançada
até aqui, terminará a temporada com produção
ofensiva de 215 gols, apenas 25 a mais que em 2002-03, quando tiveram
o menor total de gols pró em uma temporada, desconsiderando-se
a de 1994-95, abreviada pelo famoso locaute que pode se repetir daqui
a sete meses. Em todos os outros 56 jogos da temporada, os Sabres só
tinham marcado mais de cinco gols por duas vezes.
Na briga por uma vaga para os playoffs e com oito vitórias nos
últimos nove jogos, até segunda-feira o time de Buffalo
estava quatro pontos atrás dos Islanders, donos da oitava e última
vaga no Leste, e essa diferença só tem caído. Para
se manter com chances, o nível de confiança precisa continuar
lá no alto e, principalmente, influenciando as atuações
dos jogadores. Briere, Satan e Chris Drury precisarão continuar
produzindo na frente, enquanto Martin Biron precisará segurar
tudo (OK, pelo menos quase tudo) atrás.
As próximas semanas dirão se tudo isso acontecerá
ou se os últimos três jogos foram um mero golpe de sorte,
que pouco ou nenhum efeito terá na classificação
final. Apesar de isso ainda não estar claro, ao menos levanta
uma questão: será que não é falta de confiança
o problema dos Rangers, que, apesar do elenco milionário, não
chegam aos playoffs há sete anos?
|
Alexandre
Giesbrecht, 27 anos, fará mais um mini-tour pelo interior
de Minas Gerais durante o Carnaval. |
|
|
 |
|
COMO ESSE POVO COMEMOROU!
Maxim Afinogenov e Brian Campbell comemoram um dos 21 gols que os
Sabres marcaram entre sexta e segunda-feira (Aaron Harris/AP - 14/02/04) |
|
|
|
QUANDO 2 = 3 |
Para se chegar a 275 pontos somados entre os
artilheiros da NHL na temporada passada, teríamos de
reunir os três primeiros (Peter Forsberg, dos Avs, Markus
Naslund, dos Canucks, e Joe Thornton, dos Bruins), que somariam
311 pontos. Mas o que é realmente triste é constatar
que LaFontaine foi apenas o segundo colocado na artilharia
em 1992-93, enquanto Mogilny ficou em sétimo. Só
os dois primeiros, Mario Lemieux, dos Penguins, e LaFontaine,
somaram 308 pontos. |
|
|