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20 de fevereiro de 2004
Avalanche ofensiva

Por Alexandre Giesbrecht

Mesmo ainda na briga por uma vaga para os playoffs, a temporada dos Sabres andava monótona. Sem empolgar a torcida, os jogadores ora viam um público abaixo de 10 mil pessoas assistindo ao jogo, ora viam casa cheia. Os jornais da semana passada falavam sobre as mudanças propostas para a NHL na temporada e reclamavam que os defensores Brian Campbell e Henrik Tallinder ainda não tinham marcado gols desde que o disco começou a cair.

Não mais que de repente, o assunto mudou. Na sexta-feira, os Sabres viraram um jogo que perdiam por 3-1, fazendo 8-3 no Los Angeles. No dia seguinte, viraram um jogo que perdiam por 3-0 para o Toronto, marcando 6-4, com um gol de goleiro. Dois dias depois, enfiaram 7-2 no Atlanta, com quatro gols de Miroslav Satan.

Foram 21 gols em três jogos, algo que não se via na liga desde os Penguins de 1995-96. Os Sabres, então, não marcavam tal quantidade em três jogos desde 1992-93, quando Pat LaFontaine e Alexander Mogilny somaram, juntos, 275 pontos (ver quadro ao lado). Fala-se do gol que o goleiro Mika Noronen marcou no sábado. Dos quatro gols que Satan marcou na segunda-feira. Até Tallinder marcou um na avalanche ofensiva do time de Buffalo.

Tudo isso sem troca de técnico ou de jogadores. Sem o retorno sensacional de algum jogador contundido. E o mesmo time que estabeleceu um novo recorde da franquia ao perder sete jogos seguidos em dezembro tornou-se uma aberração dentro da NHL: um time que marca gols às dezenas.

"Você sabe que os gols são uma montanha russa na liga, e você pode ficar um bom tempo sem marcar um ou dois. Para nós, marcar oito numa noite, depois seis na noite seguinte é algo excepcional", comemorou o técnico Lindy Ruff, ainda antes dos 7-2 de segunda-feira.

Uma série sensacional, sem dúvida, que pode servir para levar a torcida ao estádio e para empolgar os próprios jogadores, cuja confiança deve estar lá em cima nos últimos dias. Mas é difícil apontar esses últimos jogos como uma tendência da NHL ou mesmo dos Sabres. Não há nada que explique racionalmente a súbita mudança no comportamento do time. É como o que aconteceu no início do ano com os Coyotes de Brian Boucher, que marcaram cinco shutouts seguidos, para depois seguir com medíocres 3-10-3-1.

A única coisa que chega perto da explicação, em ambos os casos, é a confiança. No caso de Boucher, os discos vão sendo parados, e vai sendo cada vez mais fácil rejeitá-los. No caso dos Sabres, é mais difícil, porque não se resume a uma só pessoa. Para complicar ainda mais, as duas primeiras goleadas foram construídas apenas na segunda metade do jogo, depois de o adversário abrir vantagens aparentemente insuperáveis. Quando se leva em consideração a seqüência de sete derrotas em dezembro, em que o time marcou apenas 11 gols (num incrível "degradê" de 2-1-2-1-2-1-2), então, o feito da última semana fica ainda mais incrível.

A confiança ajuda a explicar, mas não elucida totalmente o enigma. Por mais que os jogadores acreditem em si, isso não deveria provocar uma mudança tão radical, mas os jogadores são rápidos em apontar esse como o motivo.

"Neste instante, acreditamos que conseguimos vencer qualquer um", afirma Daniel Briere, o melhor jogador do time nas últimas semanas. "Estamos unidos. Nós nos colocamos em má situação para os playoffs, mas estamos trabalhando para nos recuperar. Todo mundo está focado nisso", explica J.P. Dumont. "O ambiente no vestiário mudou. Todos estão jogando seu melhor hóquei. Quando você tem todo o time jogando bem, você consegue acumular pontos", elabora Satan.

Apesar dessa boa fase, se o time mantiver a média alcançada até aqui, terminará a temporada com produção ofensiva de 215 gols, apenas 25 a mais que em 2002-03, quando tiveram o menor total de gols pró em uma temporada, desconsiderando-se a de 1994-95, abreviada pelo famoso locaute que pode se repetir daqui a sete meses. Em todos os outros 56 jogos da temporada, os Sabres só tinham marcado mais de cinco gols por duas vezes.

Na briga por uma vaga para os playoffs e com oito vitórias nos últimos nove jogos, até segunda-feira o time de Buffalo estava quatro pontos atrás dos Islanders, donos da oitava e última vaga no Leste, e essa diferença só tem caído. Para se manter com chances, o nível de confiança precisa continuar lá no alto e, principalmente, influenciando as atuações dos jogadores. Briere, Satan e Chris Drury precisarão continuar produzindo na frente, enquanto Martin Biron precisará segurar tudo (OK, pelo menos quase tudo) atrás.

As próximas semanas dirão se tudo isso acontecerá ou se os últimos três jogos foram um mero golpe de sorte, que pouco ou nenhum efeito terá na classificação final. Apesar de isso ainda não estar claro, ao menos levanta uma questão: será que não é falta de confiança o problema dos Rangers, que, apesar do elenco milionário, não chegam aos playoffs há sete anos?

Alexandre Giesbrecht, 27 anos, fará mais um mini-tour pelo interior de Minas Gerais durante o Carnaval.
 
  COMO ESSE POVO COMEMOROU! Maxim Afinogenov e Brian Campbell comemoram um dos 21 gols que os Sabres marcaram entre sexta e segunda-feira (Aaron Harris/AP - 14/02/04)
   
 
QUANDO 2 = 3
Para se chegar a 275 pontos somados entre os artilheiros da NHL na temporada passada, teríamos de reunir os três primeiros (Peter Forsberg, dos Avs, Markus Naslund, dos Canucks, e Joe Thornton, dos Bruins), que somariam 311 pontos. Mas o que é realmente triste é constatar que LaFontaine foi apenas o segundo colocado na artilharia em 1992-93, enquanto Mogilny ficou em sétimo. Só os dois primeiros, Mario Lemieux, dos Penguins, e LaFontaine, somaram 308 pontos.

 

 

 

 

 

 

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Página publicada em 18 de fevereiro de 2004.