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27 de junho de 2003
A jogada de Patrick: será que vai dar certo?

Por Alexandre Giesbrecht

Há exatos 19 anos, os Penguins tinham a primeira escolha do recrutamento na mão. Com ela, escolheram um jovem franco-canadense chamado Mario Lemieux.

Mesmo que você acompanhe hóquei há menos de uma semana, já deve saber que essa escolha foi uma das que mais valeram a pena em toda a história, já que Lemieux não apenas deu duas Stanley Cups para a torcida, como também salvou o time da extinção por duas vezes, uma como jogador, outra ao comprar o time. Isso sem falar nos inúmeros recordes da fraquia que ele detém.

Pois bem, no último sábado, os Penguins conseguiram a primeira escolha geral apenas pela segunda vez na história do time. Obviamente, o recrutamento deste ano não conta com nenhuma estrela da magnitude de Le Magnifiqué — o número de dedos na mão esquerda do nosso presidente é maior que o de recrutamentos abençoados assim. Mas, ao mesmo tempo, é um dos recrutamentos mais promissores dos últimos anos, com vários (dezenas?) jogadores que podem vir a contribuir muito para ajudar seus times.

Na verdade, os Pens tinham nas mãos apenas a terceira escolha, fruto da segunda pior campanha na NHL nesta última temporada, além da sorte dos Panthers, que, pelo segundo ano consecutivo, venceram o sorteio e subiram à primeira posição no recrutamento.

Não havia nenhum jogador que claramente fosse o número 1. Sabia-se apenas que o time da Flórida não escolheria o promissor goleiro Marc-André Fleury. Quem eles queriam, mesmo, era Nathan Horton, que provavelmente estaria disponível uma ou duas escolhas abaixo. Por isso, eles estavam oferecendo sua escolha por aí, para algum dos times imediatamente abaixo.

Se isso não acontecesse, hoje Horton estaria posando para as fotos com a primeira escolha geral de 2003, ao lado de Fleury, a segunda escolha, que estaria vestindo a camisa dos Hurricanes, e de Eric Staal, a terceira, com o preto e dourado dos Penguins. Mas não foi bem isso que aconteceu.

Rick Dudley, o gerente geral dos Panthers, queria, em troca de sua escolha, dois jovens promissores, mais a escolha de primeira rodada do outro time envolvido na troca. Isso e manter-se em posição para agarrar Horton, o que eliminou da concorrência todos, a não ser Canes e Pens. Os primeiros nem perderam muito tempo negociando, e se conformaram em ficar com Staal ou Fleury.

Isso deixou os Penguins do GG Criag Patrick como única opção para Dudley. Mesmo os dois times logo abaixo não pareciam dispostos a se envolver na negociação. Os Blue Jackets, com a quarta escolha, inicialmente estavam preocupados que os Pens acabassem escolhendo seu homem, Nikolai Zherdev, com a terceira escolha, mas também não queriam subir de posição só para pegá-lo. Os Sabres, em quinto lugar, estavam atrás do central Thomas Vanek desde o início e sequer cogitaram mudar de posição. Times com escolhas baixas ou sem nenhuma na primeira rodada, como Avs e Bruins, não chegaram a ter nenhuma chance.

Dudley ainda tentou blefar, dizendo aos jornalistas que tinha várias opções, mas, na verdade, Patrick era tudo o que lhe restava. E o GG do time de Pittsburgh percebeu isso. Quando começou a ser sondado a respeito de vários jogadores em seu elenco, Patrick ofereceu apenas o ponta direita Mikael Samuelsson, que pouco contribuiu desde que chegou, envolvido na troca que levou Alexei Kovalev para os Rangers. Dudley até tentou pressionar, mas Patrick não ofereceu mais que a troca de escolhas baixas.

Tudo isso aconteceu na sexta à noite. No sábado de manhã, o negócio estava fechado. Restava saber o que se faria com a primeira escolha. Com ela, não era mais necessário elaborar cenários com o que outros dois times fariam. Era escolher aquele que se considerasse o melhor jogador.

E este foi Fleury.

Não sei se é por causa do trauma da escolha do goleiro (?) Craig Hillier na primeira rodada do recrutamento de 1996, mas eu não gostei desta escolha. Claro, quem sou eu para questionar, daqui do Brasil, sem ter visto sequer um jogo de qualquer um dos jogadores disponíveis para o recrutamento?

Independentemente de tudo isso, a escolha de um goleiro não me parece muito certa para os Penguins. Fleury ainda demorará algum tempo para estar preparado — Patrick não vai querer queimar o agora mais valioso prospecto do time soltando-o aos lobos com um elenco de apoio limitado, para dizer o mínimo. Os Pens já têm Johan Hedberg para a posição por alguns anos. Para substituí-lo, cogitava-se a revelação Sebastien Caron, eleito para a seleção dos melhores novatos desta temporada. Além deles, o time ainda conta com jovens promessas no gol, como Tomas Duba e Bobby Goepfert.

Goleiros, por melhores que sejam na adolescência, não são sucesso garantido na NHL. Com o pessoal dos Penguins encarregado de desenvolver os jovens valores (que não tem tido muito sucesso na última década), isso é muito preocupante.

A opinião geral antes do recrutamento era a de que Staal era a aposta mais certa, um tipo de Ron Francis, só que com mais velocidade. Já Horton é considerado um atacante de força, o valioso commodity do power forward. Os Pens estão precisando de jogadores com essas habilidades, não de goleiros. Por mais que o goleiro seja considerado a pedra fundamental de um time, ele pode ser adquirido no mercado dos agentes livres — e essa idéia não é risível em relação ao Pittsburgh se levarmos em consideração que é bem provável que, a partir de 2004-05, teremos um teto salarial.

Para o bem da franquia, que ainda não conseguiu assegurar seu futuro em Pittsburgh depois de 2007, é bom que Fleury consiga ter ao menos uma fração da importância que a primeira escolha geral anterior do time teve.

Alexandre Giesbrecht, 27 anos, sabe que Eduardo Costa vai acabar aceitando um salário menor que o oferecido pela concorrência, só pela chance de poder apertar a mão do ídolo Der Falck.
FUTURO DOS PENGUINS? O goleiro Marc-André Fleury, primeira escolha geral do recrutamento, posa com executivos do time (Ryan Remiorz/AP - 21/06/2003)
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Página publicada em 26 de junho de 2003.