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27 de junho de 2003
CSKA volta a produzir talentos para a NHL

Por Eduardo Costa

Quer uma coisa para se preocupar além da provável paralisação da NHL dentro de bem pouco tempo? É que ela ajudará a acelerar o processo de aposentadoria de Mario Lemieux, Steve Yzerman, Mark Messier (se bem que esse, com todo respeito, já parou e não avisou), Al MacInnis entre outros ídolos da NHL. Sem falar de Peter Forsberg e Nicklas Lidstrom que podem retornar para o Velho Continente.

Por isso tudo esse recém terminado recrutamento ganhou tanta importância. Por tudo que foi dito sobre ele, de toda a profundidade que os olheiros falaram, é dele que se espera que saiam as "peças de reposição" da liga para os próximos anos.

Mas vários fatores que tornam difícil analisar esses prospectos. Evidente que a distância é o primeiro. Mal assistimos partidas da NHL, que dirá das três grandes ligas juniores canadenses, da NCAA e das ligas européias. De onde saem a imensa maioria dos recrutados.

Outro é um fator pessoal. Eu aqui, 23 anos nas costas, catando milho no teclado e fazendo obscuros comentários sobre a NHL para meus três e meio leitores, enquanto jovens com bem menos idade já visualizam belos contratos na NHL, já dão entrevistas para a ESPN... Onde foi que eu errei? Ah lembrei! Maldito dia, doze anos atrás, quando preferi uma camisa do Fluminense a um par de patins naquela maldita Lojas Americanas. Se o Rumun Ndur conseguiu eu também conseguiria, afinal aqui faz menos calor que na Nigéria. Mas chega de lamentações, antes que meus amigos leitores apertem aquele "X" no canto superior direito da tela.

Vamos ao recrutamento desse ano.

Ao contrário dos últimos anos, esse recrutamento foi dominado por canadenses e americanos. Apenas dois alunos da escola soviética foram selecionados na primeira rodada. Ambos frutos do HC CSKA Moscou.

A equipe do CSKA ganhou fama como a equipe do exército russo e, como ninguém mandava mais que os militares na antiga União Soviética, eles possuíam os melhores jogadores disponíveis. Quem se recusasse a atuar pela equipe era simplesmente mandado para a Sibéria ou obrigado a virar motorista de teste para Lada. Todos os grande passaram por lá: Slava Fetisov, Valeri Kharlamov, Vladislav Tretiak, Igor Larionov, Sergei Makarov, Vladimir Krutov, Pavel Bure, Sergei Fedorov, Sergei Zubov, Alexander Mogilny, entre muito outros.

Após a queda do regime comunista a equipe se enfraqueceu e viu seu rival moscovita Dínamo (o time da KGB) passar a dominar a cena local e posteriormente viu o crescimento das equipes do interior como Metallurg Magnitogorsk, Ak Bars, Lada Togliatti e Torpedo Yaroslavl.

A única coisa que se manteve no CSKA além das lembranças dos tempos de glória, foi o "ditador" Viktor Vasilievich Tikhonov. O treinador cujo nome causa arrepios até hoje em jogadores como Kasparaitis e Larionov, que tiveram o ancião como treinador na seleção russa nos anos 80 e 90.

Curiosamente foi a vontade de ser treinado por Tikhonov que levou Nikolai Zherdev a escolher o CSKA para atuar. O jogador viu que poderia aprender o mesmo que os consagrados jogadores citados acima aprenderam com o treinador.

Fui buscar informações do Zherdev, de apenas 18 anos de idade, em um fórum sobre hóquei russo. Passaram-me tantos elogios sobre o rapaz que me fez crer por um momento que se tratava de uma mistura de Wayne Gretzky, Mario Lemieux e Pavel Bure.

Mas vamos ao que mais se aproxima do normal.

Nikolai Zherdev esteve por muito tempo no topo da lista dos olheiros da NHL, mas foi apenas o quarto selecionado (Columbus Blue Jackets). O principal motivo disso se deve ao seu poder ofensivo. Fiel ao estilo da escola russa (na verdade ele é ucraniano, mas dá no mesmo) sua habilidade para controlar o disco é sua maior virtude. Isso aliado à sua velocidade e controle do tempo da jogada o torna sempre uma referência para os companheiros.

No CSKA trabalhou sua maior deficiência que era segurar demais o disco. Por ser fominha ele enfrentou problemas no último mundial júnior (que sua The Slot BR cobriu com exclusividade para toda América Latina) e teve reduzido tempo de gelo. Mesmo assim teve sua importância na conquista do ouro pela sua seleção. Tamanho ainda é uma preocupação, mas os Blue Jackets já disseram ter um planejamento para que o russo ganhe mais força muscular e se torne menos propício a contusões quando for enfrentar os marcadores norte-americanos.

Em sua última temporada na liga russa ele contabilizou 12 gols e o mesmo número de assistências em 44 partidas. Segundo o treinador e gerente geral dos Blue Jackets, Zherdev era mesmo a preferência da equipe antes do recrutamento.

O outro membro do CSKA selecionado na primeira rodada é Andrei Kastsitsyn, também de apenas 18 anos. Selecionado 10.º geral pelos tradicionais Montreal Canadiens, o atacante estava bem ranqueado pelos olheiros da liga e apenas o fato de sofrer de epilepsia deixava uma grande interrogação sobre sua possível escolha.

Bielorusso, o jogador esteve no Canadá nesse ano para exames com um médico em Toronto que avaliou suas condições. Os resultados positivos certamente ajudaram na decisão de Bob Gainey e cia. de contar com o jogador.

Assim como Zherdev, ele precisa se ajustar ao jogo mais físico da NHL. Como destaque tem sua velocidade, considerada acima da média. Apesar de pequeno não teme jogar em meio ao tráfego intenso na frente do gol adversário. Bom chute é outra de suas qualidades. Teve muito pouco tempo de gelo na liga russa, mas foi um dos líderes da Bielorússia nos mundiais sub-20 e sub-18 nos últimos dois anos.

Os dois ajudaram no renascimento do CSKA no cenário russo e levaram de volta os torcedores à arena, e, como devem ficar pelo menos mais uma temporada da equipe, a promessa é que o time brigue por algo mais do que se manter entre os dez primeiros no próximo ano. Depois sim será a vez de pensar na NHL. A julgar pelo sucesso dos atletas que vestiram a camisa da equipe moscovita e hoje atuam na NHL, o futuro parece promissor para ambos.

Eduardo Costa aproveita essa última edição da temporada e agradece a todos os amigos que prestigiaram a Slot nesse período, dos colaboradores aos ilustres leitores. Valeu galera!
NIKOLAI ZHERDEV Jogador de Kiev, Ucrânia, veste a camisa do Columbus Blue Jackets depois de ser recrutado (Ryan Remiorz/AP - 21/06/2003)
 
ANDREI KASTSITSYN O jogador bielorusso veste o uniforme e o boné do Montreal Canadiens (Ryan Remiorz/AP - 21/06/2003)
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Página publicada em 26 de junho de 2003.