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13 de junho de 2003
Por que nem tudo são flores...

Por Marco Aurelio Lopes

Todo ano, um novo campeão é coroado com a Stanley Cup, jogadores revelações surgem, veteranos dão um último gás e mostram que ainda têm o que mostrar, equipes pouco cotadas surpreendem nos playoffs etc., etc., etc. Mas há que se levar em conta também que, por trás de toda esta alegria, não podemos negar que sempre que uma nova temporada começa, expectativas que são criadas em torno de equipes e jogadores acabam não sendo correspondidas.

Assim, com o término da temporada 2002-03, a exemplo das escolhas dos melhores da temporada, vou fazer uma pequena seleção das decepções, mencionando alguns nomes que você (e nós também) certamente imaginava que fariam furor, e que nos deixaram a ver navios. A eles.

Curtis Joseph -– Talvez a maior decepção da temporada. Contratado a peso de ouro para manter a hegemonia dos Red Wings, substituindo o recém-aposentado Dominik Hasek (que encerrou a carreira após o título de 2002), CuJo simplesmente não conseguiu em momento algum lembrar o "Dominador" ou mesmo suas performances muitas vezes espetaculares dos tempos de Toronto. Ao contrário, uma sucessão de falhas gritantes, rebotes tolos e erros que por muitas vezes custaram vitórias aos Wings. Nos playoffs, quando se podia imaginar um novo Joseph, mais desilusão, com a eliminação precoce dos campeões para o (então) modesto Anaheim. Falta de experiência não pode ser fator para um goleiro que já caminha para a aposentadoria. Peso de responsabilidade? Pode ser. Mas que em 2003-04 isso não se repita, pois, com Manny Legace amadurecendo, os dias de CuJo em Detroit estarão contados.

Carolina Hurricanes -– Tudo bem que, já em 2002, os Canes eram um azarão, mas, já que o time chegou às finais, o mínimo que se podia imaginar era que o Carolina brigaria por uma vaga nos playoffs (ainda mais na fraca Divisão Sudeste). Ledo engano... O time, que conta com os experientes Ron Francis, Rod Brind'Amour e Bret Hedican, simplesmente foi uma caricatura e, após perder, via trocas, Sami Kapanen e Glen Wesley, além da situação indefinida quanto ao técnico Paul Maurice e o rodízio constante entre os goleiros Arturs Irbe e Kevin Weekes, o que se viu foi um grupo que nunca ameaçou ficar "entre os oito". Talvez no que tenha sido a maior queda de uma equipe na história da NHL, o time de Raleigh conseguiu — pasmem — passar de vice-campeão a lanterna absoluto da liga, ficando em 30.º lugar entre as 30 equipes da NHL. Certamente não era isso que os torcedores que assistiram seu filme na final passada queriam ou imaginavam.

San Jose Sharks -– Um time que tinha Nabokov no gol, Stuart na defesa, Nolan, Damphousse e Selanne no ataque fatalmente estaria entre os favoritos em qualquer previsão sobre possíveis finalistas da NHL. Mas o tubarão afundou — e feio. Dentro e fora do gelo. Um time que jamais conseguiu sair das últimas posições na Conferência Oeste, mesmo com a chegada do desejado xerife Kyle McLaren, parecia mais um bando que uma equipe. Sobrou para o técnico Darryl Sutter, que sequer emplacou 2003 no comando da equipe, dando lugar ao defensivo Ron Wilson, e até para o bastante conceituado gerente geral Dean Lombardi (sempre tido como um dos melhores da liga), que montou um ótimo plantel ao longo dos anos, com boas trocas, contratações e recrutamentos. No gelo, após ver a temporada ruindo, a última vítima foi o capitão Owen Nolan, que marchou para Toronto (onde, aliás, também não vingou), em busca de um título que os Sharks certamente não conseguiriam.

Tony Amonte -– Talvez o mais cobiçado entre os agentes livres na última pré-temporada, o formidável atacante trocou a passividade do Chicago pelo ambicioso projeto de Wayne Gretzky e seu Phoenix Coyotes, na busca de ser o líder de um time de jovens e levá-los, quem sabe, a uma final de Stanley Cup. Mas o sonho virou pesadelo: a inexperiência dos Coyotes falou mais alto, e Amonte não foi o atacante incisivo e matador de outros tempos. Para sua sorte, veio o chamado do Philadelphia Flyers, onde poderia realmente competir pelo título em uma equipe já formada e que contava com LeClair e Recchi em suas linhas. No entanto, mais uma vez Amonte decepcionou, seguindo a trilha deixada em Phoenix e sem produzir o que dele se esperava. Os Flyers não foram longe — de novo — nos playoffs, e Amonte, em uma de suas piores temporadas, nada pôde fazer para evitar o fato. Mas seu passado ainda o deixa com crédito.

Equipes de expansão -– Claro que não se exige que equipes tão jovens quanto estas briguem pela Stanley Cup, mas, ao mesmo tempo, com ao menos três temporadas disputadas em suas histórias, Blue Jackets, Thrashers e Predators ainda não conseguiram sequer causar um "alvoroço" na classificação e na briga por vagas aos playoffs. Pelo contrário, estas equipes vêm constantemente ocupando a parte mais baixa da tabela. Das três, apenas os Predators conseguiram por vezes ameaçar chegar pela primeira vez aos playoffs, para rapidamente voltar a despencar. Entrando em mais uma temporada, já está na hora de essas equipes brigarem mais e deixarem de desapontar a torcida, que rapidamente pode perder sua paciência. Para piorar as coisas, o Minnesota Wild, que em três anos já chegou a uma final de conferência, pode ser um parâmetro desafiador a essas equipes.

As estrelas de 2002 -– Poucos imaginavam que o artilheiro e o melhor goleiro da temporada de 2002 simplesmente desapareceriam na temporada seguinte. Pois Jarome Iginla e José Théodore foram meras sombras do que foram há um ano. Iginla, confinado em um Calgary Flames que jamais parece retomar o rumo, nunca pareceu que chegaria a repetir a temporada com mais de 50 gols, totalizando apenas uma fração disso (o que também pode ser explicado, ao menos em parte, pela saída de seu parceiro no ataque, Dean McAmmond, que partira para Colorado na pré-temporada). Théodore, que fora comparado a Roy (ou ao menos apontado como legítimo sucessor), também foi vítima da mediocridade do Montreal Canadiens, que parecia ver nele o pilar que o levaria mais uma vez aos playoffs, mas esqueceram que goleiro sozinho não leva taça. Com um fraco elenco à sua frente, Théodore jamais provou ser candidato ao bis do Vezina e ainda viu por muito tempo seu reserva Jeff Hackett ser mais consistente, brigando de igual para igual pela vaga de titular. Para sua sorte, ao menos, Hackett acabou indo parar em Boston.

Os gastões de sempre -– Claro que, para montar um time vencedor, é preciso uma boa quantidade de dólares nos cofres para manter ou trazer novos craques. Porém, em Toronto e em Nova York, entra ano e sai ano, dois dos times mais ricos da NHL continuam a torrar dinheiro em contratações muitas vezes furadas (Nolan? Holik?) e que não trazem a tão sonhada taça. Para o Toronto, a espera já vai a mais de 30 anos, enquanto nos lados dos Rangers já se vão mais de cinco anos sem sequer chegar aos playoffs. Prova que comprar jogadores simplesmente porque se tem cacife não é o caminho para construir um vencedor. Os Leafs vêm investindo em veteranos em final de carreira, que parecem não agüentar mais o tranco de uma pós-temporada (Belfour talvez tenha sido a exceção, após uma brilhante campanha). Já o caso dos Rangers parece mais grave ainda. De uma leva só, Kasparaitis, Holik e Kovalev, jogadores caríssimos que não repetiram as boas temporadas de outros clubes, e só aumentaram a folha salarial do Rangers e a frustração da torcida. Outra equipe que começa a merecer uma nota nesta seção é o Washington, de Bondra, Jagr e Kolzig, que investiu altíssimo em um jogador mediano como Robert Lang e mais uma vez morreu na praia.

Além desses exemplos clássicos de decepções na temporada 2002-03, ainda há que se notar outras decepções, que, embora não tenham sido determinantes na temporada, acabaram por entristecer suas torcidas.

Antigos campeões -– É uma pena ver equipes que já tiveram a glória de erguer a Stanley Cup sofrendo com a falta de bons elencos (muitas vezes causada pela falta de verbas) e sem a menor chance de sequer disputar uma vaga nos playoffs. Assim, Calgary, Chicago e Pittsburgh parecem caminhar rumo a um abismo de que é difícil sair. Sem equipes fortes e sem condição de manter seus principais jogadores, estas equipes parecem fadadas a simplesmente fazer número na NHL. No caso de Calgary e Pittsburgh, então, talvez a saída seja a mudança para outra cidade, onde possam ter times capazes de voltar às glórias de campanhas passadas.

Favoritos no meio do caminho -– Quem imaginaria que Detroit e Colorado sairiam logo na primeira rodada? Ou que Dallas e Philadelphia cairiam antes da final de conferência? Sem dúvida, estas equipes, que certamente estavam cotadas para chegar ao título, foram as grandes decepções dos playoffs, ao não conseguirem superar equipes emergentes, como Anaheim e Minnesota. No caso do Philadelphia, a decepção foi por mais uma vez não ter ido tão longe quanto seu elenco supunha. Mas a derrota acachapante para o Ottawa Senators fez a torcida em Philadelphia voltar para casa mais cedo, de novo. E, por que não?, os Senators também podem ser considerados uma decepção, já que, sendo o melhor time da temporada regular e chegando às finais de conferência como favoritos para chegar à sua primeira Stanley Cup, acabaram sendo frustrados mais uma vez, agora frente ao New Jersey Devils, em plena Ottawa, no jogo decisivo.

Certamente você deve ter suas indicações para a decepção da temporada. Mas certamente você vai concordar que aqui temos alguns nomes para, digamos, iniciar o debate. Agora, é relembrar a temporada e parar para lembrar o que você achava que aconteceria e não se concretizou. Só espero mesmo é que você não tenha se decepcionado com a temporada. Até a próxima!

Marco Aurelio Lopes, de 27 anos, está muito decepcionado com a situação de seu Pittsburgh Penguins, mas espera que em breve Super Mario possa levá-lo de volta à "Terra Prometida" – as finais da Stanley Cup.
 
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Página publicada em 12 de junho de 2003.