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13 de junho de 2003
Chatos, campeões e com futuro garantido

Por Alexandre Giesbrecht

Desta vez, sem jogo 7 de 1994 antes das finais. Desta vez, eu estava preparado para o jogo 7 do ano que aparece no meu calendário. Eu tinha a certeza de que iríamos para a prorrogação, a primeira em jogo 7 das finais em 49 anos.

Algo que eu imaginava ser como o jogo 7 entre Penguins e Sabres nas semifinais de conferência de 2001. Um jogaço, que foi para a prorrogação e lá foi decidido pelo mais improvável dos heróis, Darius Kasparaitis. A emoção de fazer gol ou ser eliminado instantaneamente por um gol do adversário.

Era isso que eu esperava. Ao invés disso, assisti a um time acanhado, tentando de todas as maneiras adiar o inevitável. Os Devils nem precisaram ser chatos — embora não tenham perdido a oportunidade de ser — para levar esse jogo, e, com ele, a taça. Não. Um outro herói improvável, Mike Rupp, decidiu tudo com o desvio de um chute de Scott Niedermayer.

Ali eu tive certeza de que a Stanley Cup de 2003 passou a ter dono. Os gols que vieram depois, que também tiveram o dedo de Rupp (com duas assistências), foram mera formalidade. A torcida, que daqui a quatro meses terá se esquecido de que os Devils existem, comemorava, embora não tão apaixonadamente quanto a torcida de Montreal comemorou em 1993, a mais esfusiante demonstração de carinho de uma torcida que já vi.

Menciono a decisão de dez anos atrás porque a comemoração dos Devils começou a dez segundos do fim, atrás do gol de Martin Brodeur. A dos Canadiens começou também com antecedência de quase dez segundos, embora mais para o meio do gelo. Quer coisa melhor do que comemorar um título que você sabe que já veio, mesmo antes da buzina final? Mesmo que o disco sobrasse no taco de algum jogador dos Ducks, este não teria a coragem, a petulância e a estupidez para mandá-lo na direção do gol de Brodeur.

Outro acontecimento que me deixou com uma sensação de dèja-vu foi a entrega do Troféu Conn Smythe a Jean-Sébastien Giguere, o goleiro vice-campeão. Não foi nenhuma novidade, claro, pois já aconteceu no passado, mas a única vez que vi a performance de um jogador vice-campeão merecer consideração para o Conn Smythe foi em 1994.

Naquele ano, Pavel Bure, então nos Canucks, só não levou o Conn Smythe porque Brian Leetch realmente mereceu pelos Rangers (isso sem falar em Mark Messier, que, na falta de Leetch, poderia ganhá-lo) e porque ele não foi o único grande responsável pela bela campanha do time de Vancouver: o goleiro Kirk MacLean também foi bastante importante.

Aliás, todas essas memórias de decisões de Stanley Cup da última década me fazer pensar qual será o futuro deste time dos Mighty Ducks. Afinal, nas 12 decisões anteriores, sempre que uma zebra chega à final seu futuro não é dos mais brilhantes. A única exceção? Os Devils de 1995, os únicos da minha lista a ganharem o título, que, ainda assim, ficaram de fora dos playoffs na temporada seguinte.

Estou me referindo aos North Stars de 1991, que só foi chegar às finais novamente em 1999, já como Dallas, aos Kings de 1993, que ficaram de fora dos playoffs por anos a fio e até hoje não chegaram sequer perto de uma final, aos Canucks de 1994, que só agora começam a ser respeitados, mas não têm feito grandes campanhas nos playoffs, aos Panthers de 1996, aos Capitals de 1998, aos Sabres de 1999, que inclusive estão em concordata, e, principalmente, aos Hurricanes do ano passado, que amargaram o fiasco de cair para a 30.ª e última posição na NHL.

Seria esse o destino dos Ducks? Ainda é difícil dizer, porque não se sabe como serão os moldes da NHL a partir da metade do ano que vem, quando as negociações do acordo coletivo de trabalho prometem pegar fogo. Tudo indica que, se for mantido o mesmo grupo, o time pode fazer uma campanha melhor na temporada regular e disputar até o título da sua divisão. Mas nem isso é garantia, já que os Canucks de 1995 mantiveram a mesma base do time vice-campeão do ano anterior, e nem isso garantiu sucesso nos playoffs.

Enquanto isso, os Devils não estão muito preocupados com mais nada. Bebendo champanhe direto da Stanley Cup, por que se preocupariam? Ter um GG como Lou Lamoriello, que faz milagres com um orçamento razoavelmente limitado, é quase uma garantia de sucesso. O time continua chato e burocrático, mas vence. Vence e continua sem torcida. Os mesmos que lotaram a Continental Airlines Arena nas finais (e só nas finais) dificilmente vão ocupar os lugares na próxima temporada regular.

E não estou falando de um time que foi uma surpresa. Todos sabiam que os Devils eram sérios candidatos ao título, e o segundo lugar no Leste só confirmou essa teoria. Ainda assim, o número de vezes que o time lotou o estádio nos 82 jogos da temporada regular é igual ao número de Stanley Cups que eles agora têm na sala de troféus: três.

Estranho, não?

Alexandre Giesbrecht, publicitário, está decepcionado com a escolha de Ed Olczyk como técnico dos Penguins.
DEPOIS DO JOGO O goleiro ganhador da Stanley Cup cumprimenta o goleiro ganhador do Troféu Conn Smythe: numa decisão com dèja-vu, o futuro é uma incógnita (Charles Krupa/AP - 09/06/2003)
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Página publicada em 12 de junho de 2003.