|   Por 
          Eduardo Costa 
           
          O que pode ser dito dos Devils?  
           
          Que eles deram início a era das defesas na NHL, que seu estilo de jogo 
          é chato pacas, que Lou Lamoriello é um mão-de-vaca, que seus torcedores 
          raramente enchem a Continental Airlines Arena, que Scott Stevens joga 
          sujo às vezes, entre outras coisas. Mas o que temos que dizer antes 
          disso tudo, é que o os Devils são vitoriosos. Nada mais, nada menos, 
          e, como já disse um sábio (que eu não faço idéia quem seja), a razão 
          está sempre do lado dos vitoriosos, e dessa vez não é diferente.  
           
          Se os Ducks ganharam, com merecimento, o respeito que nunca tiveram 
          após esses playoffs, a equipe de New Jersey entrou definitivamente para 
          o grupo da elite da NHL. Possuem em sua curta história o mesmo número 
          de títulos que uma equipe "original" como o Chicago Blackhawks, e está 
          a apenas uma conquista dos rivais Rangers, outra organização que beira 
          os 80 anos de existência.  
           
          E poucos ousam tirar os méritos do "ditador" que está por trás do sucesso 
          da franquia.  
           
          Lou Lamoriello, de pão-duro a gênio, em nove meses. Se Pierre Lacroix 
          e Ken Holland ganham sempre destaque na mídia nos dias-limite de trocas 
          ou nas movimentações pré-temporada, o mesmo acontece com Lou Lamoriello, 
          mas por diferentes motivos. Enquanto os dois primeiros por contratações 
          ou trocas de grande impacto, o segundo por sua inércia ou por suas trocas 
          consideradas insignificantes. Criticado por nunca apertar o gatilho 
          na hora "H", ele mais uma vez terminou a noite mais importante do ano 
          (como a dessa última segunda-feira) como um gênio.  
           
          Suas duas principais aquisições em 1995 foram consideradas piadas pela 
          imprensa, mas Shawn Chambers e Neal Broten, marcaram um par de gols 
          cada no último jogo daquela histórica varrida contra os Wings. Em 2000, 
          com apenas oito jogos restando na temporada regular e com a equipe líder 
          da Conferência Leste ele mandou o treinador Robbie Ftorek embora e contratou 
          para seu lugar Larry Robinson, que, como treinador principal tinha um 
          histórico bem rico em derrotas, e os Devils foram campeões novamente. 
           
           
          O pesadelo de todo agente de jogador é sentar numa mesa para negociar 
          um contrato com Lamoriello. Uma de suas vítimas no início dessa temporada 
          foi Bobby Holik, um dos pilares time que, em busca de grana, teve que 
          ancorar do outro lado do rio Hudson, onde o primo rico dos Devils o 
          esperava com braços e carteiras abertas.  
           
          Outro popular atleta na cidade, Petr Sykora, ex-membro da aclamada "EASy 
          line", foi trocado por Jeff Friesen. Friesen esteve quente nas quatro 
          partidas das finais disputadas em East Rutherford, enquanto Sykora pouco 
          apareceu. Mais uma vez o tempo deu razão ao gerente geral. Em tempo 
          de vacas magras na NHL, a grande parte dos gerentes gerais deveriam 
          mirar sua atenção para Lamoriello e aprender a tirar o máximo de uma 
          equipe, mesmo com uma folha de pagamento limitada.  
           
          Foi ainda chocado com a derrota para o Carolina Hurricanes na pós-temporada 
          de 2002 que o gerente geral foi atrás de Pat Burns para substituir o 
          demitido Kevin Constantine. O bonachão treinador segue a mesma filosofia 
          excessivamente disciplinadora de Lamoriello, tem o mesmo modo seco de 
          tratar a imprensa e ambos são adeptos da filosofia de que o melhor ataque 
          é a defesa e que nenhum atleta está acima do conjunto. Casamento perfeito. 
          Mas foi uma aposta arriscada. Após sair dos Bruins, Burns ficou desempregado 
          e foi tido como "acabado".  
           
          Ninguém conquistou mais vezes o Troféu Jack Adams, prêmio dado ao melhor 
          treinador da temporada, do que Pat Burns. Venceu logo em sua primeira 
          temporada como treinador na NHL, em 1989, quando levou os Canadiens 
          às finais (derrota para o Calgary Flames). Ficou em Montreal até 1992 
          quando passou para o rival eterno, Toronto Maple Leafs, onde também 
          venceu o Adams em sua primeira temporada. Por último conquistou o terceiro 
          troféu com o Boston Bruins em 1998. Mas quem não trocaria um troféu 
          individual por colocar seu nome na Stanley Cup? Com certeza Burns agora 
          deve estar se sentido plenamente realizado.  
           
          Outro que provavelmente gostaria de trocar um prêmio individual pela 
          conquista máxima do hóquei é Jean-Sébastien Giguere, vencedor do Troféu 
          Conn Smythe como jogador mais valioso da pós-temporada. A expressão 
          de "Jiggy" ao receber o seu troféu dizia algo como: "troféu errado". 
          Em vez dele, quem ergueu a Stanley Cup foi o homem que todos acreditam 
          que vai bater os recordes de Patrick Roy. Curiosamente Martin Brodeur 
          tomou um recorde de outro grande goleiro nesses playoffs. Com sete shutouts, 
          ultrapassou os seis de Dominik Hasek, obtidos ano passado quando o tcheco 
          levou os Wings ao título.  
           
          Brodeur é um dos seis Devils desse elenco campeão, que vestiam a mesma 
          camisa em 1995, ano do primeiro título, contra o Detroit Red Wings, 
          e um dos onze que também fizeram parte da equipe que venceu o Dallas 
          Stars em 2000. Outro que também sentiu o gosto das três conquistas é 
          Ken Daneyko, e o que torna isso ainda mais saboroso é o fato dele estar 
          na franquia desde o primeiro dia dela em New Jersey e ter enfrentado 
          os anos de penúria da franquia . "Dano! Dano! Dano!" Acredito que não 
          foram apenas os desafortunados amigos que tiveram que acompanhar a finalíssima 
          via NHL radio na Internet, que ouviram a homenagem que os torcedores 
          dos Devils fizeram quando Ken Daneyko pôs seus patins no gelo. Belo 
          gesto também de Pat Burns ao mandar o velho Ken para os segundos finais 
          da partida após manter o jogador fora de praticamente toda a série final. 
           
           
          Seu companheiro de longa data Scott Stevens deixou sua marca novamente. 
          Tirou da cabeça as lembranças da derrota na sétima partida contra o 
          Avalanche em 2001 e mais uma vez teve a honra de receber das mãos do 
          comissário Gary Bettman (não foi a presença dele que tornou isso um 
          ato honroso) o cálice sagrado, o mais importante troféu do esporte interplanetário, 
          a Stanley Cup (isso sim é o motivo da honra). Além disso, o capitão 
          mais uma vez deixou sua marca ao acertar um tranco de caráter duvidoso 
          em Paul Kariya na sexta partida da série. O capitão dos Ducks se juntou 
          ao infeliz grupo de vítimas de Stevens em jogos de pós-temporada, que 
          inclui também Keith Primeau, Slava Kozlov, Ron Francis, Shane Willis 
          e Eric Lindros.  
           
          Continuando na defesa, não há como não tirar o chapéu para a excelência 
          dos Devils em evitar gols. Seguramente está entre as melhores de todos 
          os tempos da NHL. Sem exageros. Além de Scott Stevens, eles possuem 
          Scott Niedermayer, Brian Rafalski, além de atacantes com grande senso 
          defensivo como John Madden e Sergei Brylin (um dos heróis invisíveis 
          da conquista). Com quantidade e qualidade nessa área, como não dar ênfase 
          ao jogo defensivo?  
           
          Mas alguém tem que colocar o disco na rede. E se Patrick Elias parecia 
          estar em temporada de hibernação, surgiram os improváveis heróis. Michael 
          Rupp e Jeff Friesen foram os personagens da sétima partida. Só o futuro 
          irá dizer se Mike Rupp permanecerá por muito tempo na liga, mas já tem 
          seu lugar na história reservado como um dos mais improváveis destaques 
          de uma partida de tal magnitude. Seu primeiro gol em playoffs foi o 
          gol vencedor da Stanley Cup. Só isso.  
           
          O jovem foi um dos beneficiados com a lacuna deixada após a contusão 
          de Joe Nieuwendyk. O veterano central ficou de fora de toda a final 
          este ano, mas os companheiros creditam a ele a inspiração para a vitória 
          no jogo 7 contra o Ottawa Senators. Venceu sua terceira Stanley, em 
          três diferentes décadas. Seu ex-companheiro de Stars, Jamie Langenbrunner, 
          foi o maior pontuador da pós-temporada com 18 pontos, mesmo número que 
          seu companheiro Scott Niedermayer. John Madden foi o quarto com 16. 
           
           
          Mais uma vez New Jersey, a sucursal do inferno na terra, é que tem a 
          honra de ostentar o status de reis do hóquei. Dinastia ou não, Martin 
          Brodeur quer mais e deixa seu recado: "É importante saber que não terminou 
          para nós". Alguém duvida disso?  
           
          Ah! E já ia me esquecendo, eles venceram uma sem Claude Lemieux! 
        
           
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            Eduardo Costa vai passar o dia dos namorados 
                acompanhado da Sylvia Saint.  | 
           
         
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            INÍCIO DO FIM  Jamie 
              Langenbrunner e Mike Rupp festejam o gol que abriu a porta do paraíso 
              para os Devils (Paul Chiasson/AP - 09/06/2003) | 
           
           
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            O FIM  Jean-Sébastien 
              Giguere apenas acompanha o disco entrar após chute de Jeff 
              Friesen (HO, NHL/AP - 09/06/2003) | 
           
         
        
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