Por Humberto Fernandes

Curiosidades esquisitas ou engraçadas do hóquei no gelo — esperançosamente verdadeiras:

... Solução no banco
Na tarde de 18 de março de 1979, o Quebec Nordiques deveria jogar contra o Edmonton Oilers até que o treinador Jacques Demers percebeu que teria problemas para escalar o número mínimo de jogadores — 15.

Seis jogadores dos Nordiques não podiam atuar: JC Tremblay, Richard Brodeur e Serge Bernier estavam com contusões no joelho, Pierre Lagace e Marc Tardif nos ombros e Vale Hoganson havia quebrado o nariz.

Entretanto, quando o jogo começou, havia 15 jogadores no time, sendo que um nitidamente estava fora de forma. O treinador Demers escalou-se no time, mas para fazer isso teve que assinar uma espécie de contrato-relâmpago de cinco jogos. Demers nunca jogou, sendo que os Nordiques não precisaram. Liderados pelos três gols e duas assistências de Buddy Cloutier, a equipe de Quebec venceu os Oilers por 7-2.

... Cadeiras pra que te quero
Fort Wayne Komets e Toledo Mercurys Goaldiggers eram grandes rivais. As partidas entre eles geralmente ficavam fora de controle e o ex-Komet Doug Ridler dizia que "a única coisa que você sempre ouvia era que os fãs de Fort Wayne não deveriam ir a Toledo, porque eles tentariam destruir os carros ou empurrar nosso ônibus no rio. Os fãs de lá eram exatamente como diziam".

A rivalidade durante a temporada regular e os playoffs estava violenta — a maioria dos jogos totalizou mais de 150 minutos em penalidades. "Era como ir à guerra", disse o ex-Komet George Kotsopoulos.

Em 1984 os rivais se enfrentaram na Toledo Sports Arena, com uma espessa névoa. Com os Komets acertando a trave oito vezes, os Goaldiggers marcaram o único gol já no fim do jogo — pelo menos a luz vermelha se acendeu. O goleiro dos Komets, Darren Jensen, reclamou que não podia ver um metro à sua frente, e o chute veio do triplo desta distância.

Em uma noite, o treinador dos Komets, Ken Ullyot, protestou contra uma marcação do árbitro arremessando uma cadeira no gelo.

Para não ficar atrás, o treinador de Toledo, Ted Garvin, protestou contra um gol anulado cobrindo o gelo com cadeiras e tudo mais que tinha em mãos.

... Comida rápida

Robert Picard foi a escolha de primera rodada do Washington Capitals em 1977. No dia do recrutamento, escreveu uma carta de propósitos para com a equipe. O talentoso defensor também pegou parte de sua gratificação e imediatamente comprou um carro novo, como muitos outros jovens jogadores de hóquei faziam.

Pouco tempo depois, outro agente veio falar com Picard e o convenceu de que seu empresário original o havia vendido muito barato. O atleta de 20 anos então assinou outro contrato, desta vez com o Quebec Nordiques, da WHA.

Quando os Capitals protestaram, Picard respondeu, sem medir palavras, "eu poderia vender mais pizzas em Quebec que jogar hóquei em Washington". Os Capitals decidiram negligenciar o insulto do jogador, mas ameaçou ir aos tribunais e a WHA renunciou ao atleta.

Picard regressou relutante para Washington, a tempo de participar da preparação para a temporada. Um de seus primeiros jogos era contra os Nordiques, em Quebec. Como os fãs da cidade saudaram o herói local? Eles lançaram pizzas ao jogador quando ele entrou no gelo.

... Demitido e contratado

Na noite de 3 de março de 1979, sábado, o Toronto Maple Leafs se organizou para o jogo em casa contra o Philadelphia Flyers sem ter um treinador no banco. Roger Neilson havia sido demitido após os Leafs perderem pela quinta vez consecutiva, desta vez em Montreal, na quinta-feira anterior.

O polêmico dono do Toronto, Harold Ballard, que havia anunciado que o trabalho de Neilson estava em risco uma semana antes, disse aos repórteres, "Neilson está indo embora", após a derrota para os Canadiens. No dia seguinte, Ballard ordenou que o gerente geral Jim Gregory pedisse a resignação do ex-treinador, mas este não concordaria. Ballard publicamente confirmou sua decisão de demiti-lo e disse que planejava oferecer outro trabalho na organização para Neilson.

Enquanto isso, Neilson pediu que seus jogadores respondessem a um questionário, indicando quais os erros cometidos, para que ele pudesse melhorar em um próximo emprego. Os jogadores se encontraram no sábado, assumiram a culpa pelas derrotas e pediram a Balard que mantivesse o ex-treinador. O dono, que não conseguiu encontrar um substituto neste tempo, decidiu fazer de tudo uma piada e sugeriu a Neilson que aparecesse no banco usando uma máscara.

Neilson recusou, mas depois aceitou o emprego de volta. Ele apareceu, para uma grande ovação, pouco antes do disco ser lançado ao gelo e guiou seu time na vitória de 4-2 sobre os Flyers.

... Corte de cabelo

Dave Hanson, um dos brigões irmãos Hanson no clássico "Slap Shot", estava tentando deixar sua marca para o Birmingham Bulls na WHA quando começou a brigar com Bobby Hull, então no Winnipeg Jets.

"No meio da confusão nós dois paramos", disse Hanson. "Todos os gritos pararam, e eu olhei para Bobby e ele não estava como quando nós começamos. Olhei para minha mão e eu tinha arrancado o topete postiço dele...".

"Eu fiquei um pouco chocado. Atirei aquilo no gelo".

Bobby Hull deixou o gelo e depois retornou usando um capacete.

... Nova infração

Em 8 de outubro de 1995, o então jogador do Florida Panthers, Scott Mellanby, matou um rato com seu taco de hóquei no interior do vestiário da Miami Arena. Na mesma noite, Mellanby marcaria dois gols. O goleiro, John Vanbiesbrouck, declarou mais tarde que Scott havia marcado um "Rat trick". Naquele momento da temporada, nenhum jogador dos Panthers havia marcado um hat trick, por isso aquela atuação era a melhor até então. Alguns fãs, noites depois, começaram a atirar ratos de borracha no gelo quando Mellanby marcava. Deste ponto em diante o conceito do rato se difundiu e continuou pela temporada. Era algo realmente interessante e deu aos fãs uma chance de mostrar o quanto apoiavam a equipe.

Com ratos de plásticos, alguns polvos mortos e outros objetos sendo atirados nas arenas da NHL, a liga instituiu uma regra para impedir os fãs de inundarem o gelo com "lixo". Uma penalidade de dois minutos poderia ser marcada contra o time da casa quando o jogo tivesse de ser paralisado para remoção de objetos no gelo. Porém, ainda é permitido atirar bonés quando um jogador consegue um hat trick, uma tradição de muitos anos na NHL.

... Contusões esquisitas

Joey Kocur teve uma contusão na mão após acertar um soco nos dentes de Larry Playfair. A ferida se infeccionou e o jogador esteve muito próximo de uma amputação. Felizmente os antibióticos fizeram efeito, no fim.

John Vanbiesbrouck cortou gravemente seu pulso quando quebrou sua mesa de café em casa. Necessitou passar por uma micro-cirurgia.

Scott Young levou 22 pontos para fechar um corte no rosto quando o taco de alumínio de Garry Galley quebrou e uma farpa o acertou acima do olho direito.

Pat Verbeek cortou um pedaço de seu polegar esquerdo nas juntas de uma máquina de plantar milho em sua fazenda. Os médicos eventualmente consertaram o estrago no dedo.

Börje Salming recebeu 250 pontos no rosto quando sofreu um corte do patim de Gerard Gallant. Ironicamente, o mesmo Salming causou um corte no rosto de Scott Stevens poucos anos depois, durante o Campeonato Mundial de 1989, em Estocolmo. Stevens recebeu 88 pontos.

... Suspensão inacreditável

Algumas coisas incríveis parecem acontecer nos reinos do hóquei recreativo: um jogador do Ayr Jackals de alguma maneira conseguiu ser punido com mais de cinco jogos de suspensão por brigar com o operador do zamboni!

Todas as curiosidades acima foram retiradas da "A a Z Enciclopédia de Hóquei no Gelo".