Por
Marcelo Constantino
É absolutamente imprescindível para a NHL salvar os Senators.
O fato de ser uma franquia cujo time é do Canadá e de
ser uma equipe tradicional são dois motivos mais que suficientes
para isso. Fosse uma franquia inexpressiva, como um Tampa Bay Lighting
da vida, por exemplo, a falência até faria um bem à
liga.
Diversas bocas pequenas dizem que não há como salvá-los,
tal qual o Buffalo Sabres. Seria uma pena, mas há um cenário
ainda pior: a franquia saindo de Ottawa para uma cidade americana, seja
ela qual for. Mais uma vez, o caminho inverso do que deveria ser. Hóquei
é essencialmente canadense, não americano.
Sair do Canadá para os Estados Unidos poderia repetir o caso
do Quebec Nordiques, franquia que tinha um forte time em 1995 e mudou-se
no ano seguinte para Colorado, onde sagrou-se campeã imediatamente.
O Avalanche hoje é uma sólida franquia da liga, tudo bem,
mas sem essa de acabar com mais um time canadense.
É necessário algum plano para salvar a franquia, e também
para que ela permaneça em Ottawa. Uma das alternativas que sempre
vêm à tona é a famosa ajudinha estatal ao time que
está na bancarrota. É discutível o ato de utilizar
o dinheiro do contribuinte para ajudar um grupo empresarial em apuros.
Possivelmente há outras prioridades públicas. No Brasil,
isso deveria ser um acinte, embora ocorra com naturalidade desde que
os portugueses colocaram os pés aqui. No Canadá é
problema dos contribuintes de lá.
Depois que a franquia entrou em concordata, a palavra de ordem agora
em Ottawa é lotar o Corel Centre, estádio onde o time
realiza seus jogos em casa. Não somente na próxima partida,
mas passar a lotar sempre. Assim, como se fosse mágica, de um
dia para o outro, porque o dono do time está pedindo. Passou
a ser a salvação da franquia.
Antes de mais nada, é inaceitável que os Senators não
consigam facilmente lotar sua arena. São, de longe, o time canadense
que menos vende ingressos. Se em Toronto os torcedores comprariam ingresso
até para ver os jogadores dormindo de boca aberta, porque em
Ottawa os bilhetes para os jogos não são disputados?
Vamos raciocinar. Trata-se de um dos (cada vez mais raros) times canadenses
na NHL. Hóquei é o esporte número um no Canadá.
Os Sens fazem uma tremenda temporada, liderando toda a liga. Enfim,
porque raios a torcida local não lota o estádio? Temporada
normal é feita para isso, para pagar salários dos jogadores,
é uma das maiores fontes de receitas dos clubes. Por isso são
82 jogos. A média de público, pasmem, fica abaixo dos
80%.
Ainda assim, a culpa da quebra da franquia não
é dos torcedores. Como diversos outros times na NHL, o Ottawa
vem aumentando consideravelmente o preço dos ingressos no seu
estádio, e isso num momento em que as economias da América
do Norte encontram-se em retração. Jogar a culpa da má
administração financeira da sua empresa nos clientes que
não compram seu produto, ainda que seja de boa qualidade, é
fácil, mas esconde a realidade: você não está
conseguindo vender seu produto.
Com receitas em dólares canadenses e despesas em dólares
americanos, os clubes do Canadá já precisam administrar
suas finanças com este desequilíbrio cambial previsto
no orçamento. Mas não é só isso, infelizmente
há um desnível também na cultura capitalista de
ambos os países. Os americanos conseguem transformar qualquer
coisa em negócio e com o esporte não é diferente.
Enquanto a franquia dos Senators passa maus bocados no país do
hóquei, com uma folha salarial baixa e com o time no topo da
liga, algumas franquias americanas em cidades onde o hóquei deve
até ser algo exótico seguem relativamente bem, com folhas
salariais igualmente baixas e campanhas medíocres. Ah, e estádios
que nunca ficam cheios também.
Nos EUA, há estádios que são substancialmente mantidos
por taxas cobradas de hotéis e restaurantes que ganham um bom
dinheiro com o número de clientes advindo dos jogos; cerca de
metade dos times cobram uma taxa também dos jogadores para manutenção
dos estádios (Calgary e Edmonton também o fazem); a loteria
paga royalties aos clubes (o que não ocorre no Canadá);
etc.
Há diversos caminhos para financiamento dos clubes, não
apenas do Ottawa e do Buffalo, sem precisar voar sobre as carteiras
dos torcedores. A primeira solução seria um diálogo
construtivo entre a liga e a associação dos jogadores
e um novo acordo coletivo, o que deverá ocorrer em menos de dois
anos. Isso se não houver a tão esperada greve.
Há uma dúzia de outras iniciativas que deverão
ser exploradas (teto salarial, revisão das regras de passe livre,
teto orçamentário, etc.) e que não são negativas
para o time, para cidade ou para o país. Hóquei é
o primeiro esporte nacional no país, não é possível
que sigamos olhando os clubes canadenses em declínio incessante.
Será necessário criar uma estrutura diferenciada para
os seis times canadenses. Se um deles tenta colocar um preço
de um produto num valor equivalente ao dólar americano, quem
paga por isso, e caro, é o consumidor, o torcedor. Isso não
é certo, será necessário uma solução
diversa.
Por ora, a busca é de uma solução para a franquia
dos Senators, que felizmente seguem jogando bonito na liga.
Alguém consegue imaginar um Ottawa Senators campeão da
Copa Stanley e quebrado financeiramente?
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Marcelo Constantino recomenda a todos a leitura dos dois volumes
disponíveis das "Ilusões Armadas", de Elio
Gaspari. |
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COREL CENTRE O estádio
do Ottawa, com o tradicional símbolo dos Senators, está
em perigo (ottawasenators.com) |
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