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10 de janeiro de 2003
A história completa dos mundiais de juniores

Por Eduardo Costa

Em 1973, a Federação Soviética de Hóquei, em conjunto com a União de Hóquei da Tchecoslováquia, propôs a criação de um campeonato mundial para jogadores com menos de 20 anos. A Federação Internacional de Hóquei no Gelo (IIHF) gostou da idéia e, em caráter não-oficial, organizou, no ano seguinte, o primeiro Campeonato Mundial de Hóquei Júnior. Veremos a seguir um breve resumo de cada competição realizada até hoje, incluindo os três primeiros torneios não-oficiais.

1974 -- A histórica cidade russa de Leningrado (hoje São Petersburgo) teve a honra de sediar a primeira competição. Foi o primeiro contato entre seleções européias e um time amador canadense desde 1969. O Canadá foi representado pelo Peterborough Petes, da Liga de Hóquei de Ontário. A seleção dona da casa não deu margens para dúvidas e venceu o torneio de forma arrasadora. Os soviéticos tinham em seu elenco sete jogadores que futuramente viriam a vencer medalha de ouro em Jogos Olímpicos ou mundiais adultos.

A Finlândia ficou com a prata, e os canadenses, com o bronze. Viktor Khatulev liderou o torneio, com nove pontos (três gols e seis assistências), mas foi o sueco Mats Ulander que foi eleito o melhor atacante do torneio. O melhor defensor foi o soviético Vladimir Kucherenko, enquanto o canadense Frank Salive foi o melhor entre as traves.

1975 -- Pela primeira vez na história, o Canadá sediou um mundial de hóquei. A expectativa da torcida em Winnipeg e Brandon era que a seleção vencesse a competição com facilidade, pois contavam com as principais estrelas de suas fortes ligas de juniores. Entre eles, Bryan Trottier, que marcou cinco gols e contribuiu para outros dois, e Dale McMullin, o líder em pontos do Canadá na competição, com oito. Mas a União Soviética mais uma vez contava com Viktor Khatulev, desta vez eleito o melhor da competição. O título veio apenas na última rodada, quando os soviéticos venceram os anfitriões por 4-3. Com o resultado, a União Soviética ficou com o ouro, o Canadá, com a prata, e a Suécia completou o pódio. Os Estados Unidos foram os últimos colocados, sem nenhum ponto conquistado em dez possíveis.

1976 -- O último mundial não-oficial foi realizado na Finlândia. Os Estados Unidos resolveram não participar, deixando a competição com apenas cinco seleções. Mas, como as participações anteriores dos americanos não foram boas, a ausência não foi sentida. A União Soviética conquistou o tricampeonato, vencendo todas as partidas, novamente com o Canadá em segundo. A Tchecoslováquia conquistou sua primeira medalha ao ficar com o bronze. O torneio teve um ótimo nível técnico, além do interesse da imprensa esportiva européia, deixando claro que estava na hora de o torneio se tornar oficial. A IIHF finalmente resolveu assumir a competição em 1977.

1977 -- Sete partidas, sete vitórias. A União Soviética manteve seu domínio, agora no já oficial Campeonato Mundial Júnior, e conquistou o tetracampeonato na cidade tcheca de Banske. Os 51 gols marcados pelos soviéticos foram uma marca histórica, só batida em 1986, com os 54 gols dos canadenses em Ontário. Apesar da potência de seu ataque, que incluía Sergei Makarov, um jovem roubou a cena atuando na defesa: Viacheslav Fetisov iniciava de maneira brilhante sua carreira, sendo eleito o melhor defensor da competição. A medalha de prata, mais uma vez, ficou com o Canadá, que, pelo menos, teve o artilheiro da competição, Dale McCourt, com 18 pontos. A seleção anfitriã ficou com o bronze. Alemanha Ocidental e Polônia estrearam em mundial júnior nesta edição.

1978 -- Melhor palco impossível para o primeiro e único mundial júnior disputado por Wayne Gretzky. A cidade de Montreal viu o garoto de 16 anos liderar a competição, com 17 pontos. Apesar de não ter sido a final, a partida entre canadenses e soviéticos foi a principal atração do evento. No gelo duelo entre Gretzky e Fetisov, o defensor levou vantagem, com a vitória dos europeus por 3-2. Mais tarde, os soviéticos venceriam os suecos na disputa da medalha de ouro para somar sua quinta conquista consecutiva. O Canadá ficou com o bronze. Gretzky e Fetisov foram eleitos para a seleção ideal da competição. Do lado sueco, o destaque foi o asa esquerdo Mats Naslund, que, mais tarde, marcaria época vestindo a camisa do Montreal Canadiens na NHL. A lanterna ficou com a Suíça, que fazia sua estréia em mundiais de juniores e que levou assustadores 70 gols em apenas seis partidas.

1979 -- Talvez tenha sido o mundial com o maior número de craques já visto. No lado soviético estavam os defensores Alexei Kasatonov e Slava Fetisov (em seu terceiro e último mundial júnior); no ataque, dois membros do que seria a famosa Linha KLM: Vladimir Krutov e Igor Larionov. Na seleção canadense, Brian Propp e Brad McCrimmon. Os americanos tinham entre seus jovens três jogadores que participariam um ano depois do famoso "Milagre no Gelo": o central Neal Broten, o defensor Mike Ramsey e o asa direita Dave Christian. A Finlândia contava com Jari Kurri e Reijo Ruotsalainen. A seleção anfitriã, a Suécia, tinha a futura estrela do Winnipeg Jets, Thomas Steen, o talentoso Hakan Loob — que depois viria a conquistar a Stanley Cup com os Flames, em 1989 —, o também futuro vencedor da Stanley Cup Mats Naslund e o goleiro Pelle Lindberg, que brilharia na NHL defendendo os Flyers. A Tchecoslováquia apresentava Anton Stastny — que mais tarde jogaria pelos Nordiques —, Darius Rusnak, Jiri Lala, Dusan Pasek, Ivan Cerny e Igor Liba. Enfim, todos os nomes acima fizeram parte da elite do hóquei mundial posteriormente.

No gelo, a União Soviética conquistou o hexacampeonato, vencendo cinco partidas e empatando uma. Vladimir Krutov foi o artilheiro da competição, com oito gols e seis assistências, sendo eleito o melhor atacante do mundial. Seu companheiro de seleção Kasatonov foi eleito o melhor defensor, com o sueco Lindberg sendo o melhor goleiro. A Tchecoslováquia ficou com a prata, e a Suécia, com o bronze. Apesar de ter tido o segundo melhor ataque da competição, os canadenses terminaram na modesta quinta colocação. Das oito seleções participantes, apenas a Noruega (cinco derrotas em cinco partidas) fez sua estréia na competição.

1980 -- Muitos dos destaques do ano anterior também disputaram o mundial de 1980, em Helsinque, na Finlândia. O Canadá repetiu a péssima quinta colocação de 1979, enquanto a União Soviética chegava ao sétimo titulo em sete edições de mundiais disputados. Vladimir Krutov, mais uma vez, liderou o torneio em pontos, com 11 (sete gols e quatro assistências). Jari Kurri teve o mesmo número de pontos, mas com menos gols. Por falar em Kurri, a seleção finlandesa venceu todas as suas partidas, exceto contra os campeões soviéticos. Reijo Ruotsalainen foi eleito o melhor defensor, e Jari Paavola, o melhor goleiro. Igor Larionov disputou seu segundo e último mundial júnior, tendo sido eleito para a seleção ideal da competição. Hakan Loob e Thomas Jonsson levaram a seleção sueca à medalha de bronze. A Finlândia, melhor ataque da competição com 29 gols, ficou com a prata. A Suíça, mais uma vez, era a lanterna, tendo perdido todos os cinco jogos que disputou e levando a segunda maior goleada da história dos mundiais sub-20, ao perder por 19-1 para os finlandeses.

1981 -- Nas sete edições anteriores, a União Soviética só havia perdido uma partida. O mundial júnior de 1981, realizado na Bavária (Alemanha Ocidental) seria marcado pelo fim da longa seqüência de títulos dos soviéticos, que perderam dois dos cinco jogos que disputaram na Alemanha. A Suécia foi a grande equipe da competição, tendo como destaques o goleiro Lars Eriksson, o defensor Hakin Nordin e o atacante Patrick Sundstrom. Todos foram eleitos os melhores da competição em suas respectivas posições. Outra coisa anormal desse mundial foi a estrondosa média de 10,3 gols por jogo. Boa parte dessa média elevada deveu-se à seleção da Áustria, que fazia sua estréia em mundiais e, em apenas cinco partidas, levou 67 gols, incluindo a humilhante — para dizer o mínimo — derrota para a Tchecoslováquia por 21-4, um recorde em mundiais de juniores. Com tantos placares altos, não é de se assustar que seis jogadores tenham empatado na artilharia da competição, com nove pontos cada. A seleção anfitriã terminou na quinta posição, com destaque para o atacante de força Dieter Hegen e seus oito gols. Além do ouro da Suécia, a Finlândia ficou com a prata, e os soviéticos, com um amargo bronze.

1982 -- Comandada pela dupla de treinadores Mike Keenan e Dave King, a seleção canadense finalmente venceria o mundial júnior em 1982. Com seis vitórias e um empate em sete partidas e com a melhor defesa da competição, o Canadá teve o privilégio de mandar algumas de suas partidas em casa (Winnipeg), apesar de a sede do mundial ter sido o estado norte-americano de Minnesota. A União Soviética, pela primeira vez, ficou de fora do pódio, terminando na quarta colocação e tendo sido humilhada com uma derrota de 7-0 para o Canadá. A seleção do mundial teve três canadenses: o goleiro Mike Moffat, o defensor Gord Kluzak e o atacante Mike Moller, que liderou sua equipe com 14 pontos. O artilheiro da competição foi o finlandês Raimo Summanen, com sete gols e nove assistências. Summanen fazia parte da mais eficiente linha da competição, junto com Petri Skriko e Risto Jalo. O trio combinou 47 pontos (22 gols e 25 assistências). A Tchecoslováquia ficou com a prata e teve em Vladimir Ruzicka seu principal nome. A Finlândia foi bronze. A Suíça, sempre ela, mais uma vez fez feio, terminando na lanterna, com sete derrotas e assustadores 81 gols sofridos em sete partidas. A seleção americana decepcionou sua torcida e terminou a competição em sexto lugar.

Na próxima edição, os campeonatos mundiais de juniores realizados entre 1983 e 1990. Mario Lemieux, Steve Yzerman, Esa Tikkanen, Brian Leetch, Jeremy Roenick, Mike Modano e os russos Sergei Fedorov, Pavel Bure e Alexander Mogilny são alguns dos destaques. Colaboraram para essa matéria: Humberto Fernandes e Heiko Lundvall.

Eduardo Costa recebeu de sua empresa um vale de natal no valor de 30 reais. Comprou tudo em cerveja.
FUTURA LENDA Slava Fetisov com uma das suas três medalhas de ouro (Allsport)
 
A HISTÓRIA DOS MUNDIAIS DE JUNIORES
Parte I (edição 28)
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Parte IV (edição 31)
Parte V (edição 32)
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Página publicada em 8 de janeiro de 2003.