Por
Fabiano Pereira
Ao final das chances matemáticas dos Rangers, um gosto amargo
permeou minha boca. Apesar de ter lutado muito, mesmo sem o goleiro
titular, Mike Richter, os Rangers caíram fora de novo
de maneira antecipada. Mesmo com Pavel Bure (recém-chegado)
e Eric Lindros jogando muito, a defesa continuava a ser a alegria dos
atacantes adversários. Intimidação era algo que
não existia naquele time. O único intimidador (Thomas
Kloucek) estava nas ligas menores. Era querer demais que um time com
quatro defensores ofensivos defendesse. Quem? Ah, Brian Leetch, Vladimir
Malakhov, Tom Poti e Bryan Berard. E entre os atacantes, então,
só Petr Nedved, Rem Murray, Andreas Johansson e Mikael Samuelsson
preocupavam-se em ajudar a defesa. Ou seja, pobre Dan Blackburn. Dezoito
anos e já tendo que enfrentar jogadores com até o dobro
de sua idade.
O garoto saiu-se bem, mas não foi o suficiente. O resultado foi
o esperado: Ron Low teve que cantar aquela música do Sinatra
para o gerente geral Glen Sather: "I've got a kick FROM you".
Sim, demitido. E com o apoio de toda a torcida blueshirt!
E, a partir daquele momento, Sather sabia que seu emprego estava em
risco (entra a música de suspense). E agora? O que ele poderia
fazer? Aproximava-se o mercado de jogadores com passe livre e ele tinha
que fazer algo. E, ousada e rapidamente, abriu sua carteira e trouxe
dois monstros defensivos: a peste Bobby Holik, ex-New Jersey Devils,
e o porradeiro Darius Kasparaitis, ex-Colorado Avalanche. E ainda trouxe
de volta o goleiro favorito da torcida, Mike Richter. Além do
que trouxe, deixou Theo Fleury ir embora, além de Bryan Berard.
Por essas e outras, Sather mostrou que aprendeu a lidar com um time
que tem dinheiro. Aprendeu a gastar com sabedoria e trouxe as peças
certas. Por que peças certas? Bem, vamos fazer uma análise
posicional (sempre quis escrever isso):
Atacantes -- Os Rangers têm bons jogadores na frente. Eric
Lindros, Pavel Bure, Mark Messier, Petr Nedved, Radek Dvorak, além
de bons prospectos, como Mikael Samuelsson, Rico Fata e Jamie Lundmark.
Mas se checássemos um detalhe (nem tão detalhe) do time
da temporada passada, veremos que o time não tinha uma linha
para confrontrar os melhores atacantes adversários. O máximo
que havia na equipe, era Sandy McCarthy, Matthew Barnaby (ouch!), Rem
Murray, Andreas Johansson (cujo contrato estranhamente ainda não
foi renovado) e Mikael Samuelsson. Honestamente, isso não mete
medo em ninguém. Talvez em mim, pois teria medo de levar uma
porrada do McCarthy, mas, como não jogo, sem problemas.
A chegada de Holik vai exatamente permitir que os Rangers tenham um
jogador para atazanar a vida dos adversários, desferindo trancos.
Ou seja, intimidar e contribuir na defesa. Fora que, com certeza, seu
estilo incansável de jogo vai contagiar a equipe.
Defesa -- Ponto fraco da equipe (se é que na temporada
passada houve um forte). Lembro daquele jogo que passou na ESPN, Rangers
x Flyers. Em uma jogada, o finado Igor Ulanov, hoje nos Panthers, sintetizou
o que era e foi a defesa da equipe. Jeremy Roenick veio no contra-ataque.
Ulanov, ao invés de desferir um tranco, tentou tomar o disco
com o taco. Roenick, jogador habilidoso, aplicou um drible da vaca no
pobre defensor. Resultado: gol dos Flyers. E foi assim a temporada toda.
Fora os mais de 30 chutes por jogo que Richter era obrigado a defender.
Teoricamente, a entrada de Kasparaitis e a vinda de Kloucek das ligas
menores devem reforçar a intimidação, inexistente
na defesa dos Rangers. Lembremos que eles não tiveram nenhum
jogador entre os 20 mais em trancos…
Goleiros -- Mike Richter de volta e saudável. Dan Blackburn
um ano mais velho. Defesa melhorada. É, acho que não preciso
falar muito.
Convenhamos: com um time desses, se não for para os playoffs
a horda de azul vai invadir o Madison Square Garden e enforcar um ou
dois…
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Fabiano Pereira está confiante. Mas não quer ter
que escrever uma placa "Now I can die in peace". |
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